A incompetência administrativa e política do presidente Jair Bolsonaro causou um efeito colateral improvável no cenário eleitoral brasileiro. Juntar dois ex-adversários que se digladiavam em discursos poucos anos atrás. Está praticamente acertada a inesperada chapa presidencial Lula da Silva (PT) com Geraldo Alckmin de vice – filiado ao PSB ou ao PSD. O jantar do grupo de advogados Prerrogativas, em São Paulo – no qual ambos foram as estrelas – foi apenas a primeira aparição pública.

+ Para Doria, caberá à opinião pública julgar associação de Alckmin a Lula
+ Em dobradinha, Dias e Alckmin criticam PT e Bolsonaro

Alckmin só conseguiu se sentar ao lado de Fernando Haddad quase duas horas depois de entrar no local, de tanto que foi paparicado. Aos grãos petistas que o cumprimentaram, a maioria com a frase “Governador, esperamos que venha com a gente” como um mantra, Alckmin respondia de pronto: “Tamo junto”, e batia a mão direita no peito, na altura do coração. É muito amor numa pré-campanha eleitoral. A conferir.

As novas conversas agora de Alckmin, recém-saído do PSDB, são com o PSB, dirigido por Carlos Siqueira, e o PSD, controlado por Gilberto Kassab – com quem o ex-governador tem mais afinidade política. Fato é que o PSB nacional ainda não engoliu o ex-tucano, e dialoga internamente para inibir resistências. A ideia de Alckmin entrar no partido foi de Marcio França, avalizada por Lula da Silva.

Antes desse ensaio Lula-Alckmin, havia articulação para o ex-governador ser o candidato do PSD ao Palácio Bandeirantes, com Marcio França (PSB) de vice. O cenário virou. França quer disputar o Governo, e idealiza uma chapa com Haddad ao Senado. Mas o ex-presidenciável petista não abre mão, por ora, de disputar o Governo. E segue a novela entre eles.

No PSDB, a decisão de Alckmin de abandonar a legenda é vista como traição pelos seus ex-aliados, que consideram a decisão de entrar na chapa de Lula como uma vendeta pessoal contra o governador João Doria Jr. Para tucanos, Alckmin vai perder a identidade com os seus eleitores históricos e manchar todo o seu currículo político.

Já Gilberto Kassab, que planejava lançá-lo ao Governo, entregou os pontos abertamente, mas ainda tenta atrair Alckmin para o PSD – pelo qual ele também pode ser vice de Lula da Silva. O partido é afinado com o PT em grandes colégios eleitorais, como Minas Gerais e até na Bahia, onde não se descarta o ex-carlista Otto Alencar apoiando Lula. E o senador e presidenciável Rodrigo Pacheco? Seria problema para resolver depois.

À mesa

Advogado de Lula enquanto esteve preso em Curitiba, que o visitava todo dia, Manuel Caetano prestigiou o jantar. Ele ganhou pontos com o Barba e a cúpula do PT. E teve assento de destaque.

Outro bem acomodado no ambiente foi o presidente nacional do MDB, controlado pelo neo-inimigo de Lula Michel Temer. Com aval de Temer, o deputado federal Baleia Rossi justificou sua presença com uma frase: “todos aqui me apoiaram contra Arthur Lira na Câmara”. Era para ele uma questão de respeito participar.

Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM), a dupla da CPI da Pandemia, foram muito tietados também. Com fotos e abraços. A ex-presidente Dilma Rousseff não compareceu, e há informações de que nem foi convidada. A despeito de ser uma das maiores defensoras de Lula durante a prisão, ela foi abandonada pelo PT e segue seu ostracismo político no bairro de Tristeza, onde mora em Porto Alegre.