À frente da direita espanhola para devolvê-la ao poder, Alberto Núñez Feijóo está perto de confirmar que a aposta foi uma escolha malsucedida. Salvo grandes surpresas, sua candidatura à Presidência do governo espanhol está fadada ao fracasso no Parlamento.

Com o vento a seu favor nas pesquisas durante meses, o líder do Partido Popular (PP, conservadores) dava como certa sua chegada ao Palácio da Moncloa para substituir o socialista Pedro Sánchez.

Embora tenha vencido as eleições legislativas de 23 de julho, isso não será suficiente. Mesmo com o apoio da extrema direita do Vox e de alguns pequenos partidos regionais, Feijóo não conseguirá obter uma maioria de votos no Congresso que permita que ele seja empossado.

Justificando sua antecipada derrota, ele afirmou nesta terça-feira, no debate de investidura no Congresso, que “nem mesmo a Presidência do governo justifica os meios”, acusando Sánchez de estar disposto, ao contrário dele, a ceder às demandas dos separatistas catalães para permanecer no poder.

“Tenho princípios, limites e palavra”, alfinetou o político de 62 anos na tribuna.

Feijóo se viu prejudicado pela aliança do PP com o Vox, que mobilizou a esquerda nas eleições e, hoje, impede-no de apoio parlamentar de partidos regionais contrários à extrema direita ultranacionalista. De qualquer forma, em um contexto de instabilidade política na Espanha, os analistas advertem contra considerar Feijóo totalmente derrotado no futuro.

“Tudo parecia indicar que, com o resultado das eleições, Feijóo já havia perdido seu momento e que seria destituído da presidência do PP”, mas “ainda tem margem”, avalia Oriol Bartomeus, cientista político da Universidade Autônoma de Barcelona.

E essa segunda oportunidade poderá surgir em breve, se Pedro Sánchez também não tomar posse nas próximas semanas. Nesse cenário, novas eleições serão realizadas, provavelmente em janeiro.

– Previsível e pragmático –

Quando assumiu as rédeas do PP, em abril de 2022, Feijóo foi saudado como um político pragmático e previsível. Até então, era presidente da Galícia há 13 anos, sempre com maioria absoluta no Parlamento regional.

“É um moderado” que “mostra (…) o quão previsível é, ou seja, se vende para o eleitorado como um político de confiança”, disse Fran Balado, jornalista galego e autor da biografia “El viaje de Feijóo”, lançada em 2021.

Nascido em 10 de setembro de 1961, na localidade de Os Peares, Feijóo é filho de um pedreiro e de uma funcionária de uma loja de alimentos. Estudou Direito na Universidade de Santiago de Compostela, com o objetivo de se tornar juiz, mas, quando o pai perdeu o emprego, tornou-se funcionário público em 1985.

Seus primeiros passos na política foram dados em 1991, no governo regional da Galícia, junto com um futuro ministro da Saúde que o levou com ele para Madri, em 1996. Na capital, dirigiu diversas instituições públicas antes de retornar para a Galícia, em 2003, como diretor regional de Obras Públicas. Três anos depois, assumiu a presidência do PP regional.

– Polêmica –

Na campanha para as eleições legislativas de julho, com as pesquisas prevendo que seria o próximo presidente do governo espanhol, reapareceram algumas imagens problemáticas para seu mandato galego.

Essas fotos mostram Feijóo, em meados dos anos 1990, compartilhando momentos de amizade com Marcial Dorado, conhecido na época como contrabandista de tabaco e depois condenado por tráfico de drogas.

Feijóo sempre afirmou que não se tratava de “uma amizade próxima” e que desconhecia a ocupação de Dorado, mas a colega galega Yolanda Díaz, líder da plataforma de esquerda radical Sumar, questionou essas palavras, alegando que “toda a Espanha sabia quem era Marcial Dorado”.

Com um estilo que a revista feminina ”Yo Dona”, do jornal “El Mundo”, descreveu como “bastante austero”, Feijóo é muito discreto em relação à sua vida privada. Isso não o impediu de confessar à “Yo Dona” que estava muito feliz por ter sido pai aos 55 anos, “aos 45 do segundo tempo”. Às vezes pode ser visto pelas ruas de Madri com sua companheira, Eva Cárdenas, seu filho, Alberto, e sua cadela, Cata.

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