Alaíde Costa e Ayrton Montarroyos releem disco de Gal e Caetano na Casa Natura

Ayrton Montarroyos e Alaíde Costa
Ayrton Montarroyos e Alaíde Costa Foto: Flavia Marcatti/Divulgação

A dupla Alaíde Costa e Ayrton Montarroyos levam ao palco da Casa Natura um espetáculo imperdível que homenageia um dos álbuns mais importantes da música brasileira: “Domingo”, de Gal Costa e Caetano Veloso. O show, acontece dia 30 de março (domingo), e promete emocionar o público ao reviver as canções que marcaram uma geração e revolucionaram a MPB. Os ingressos já estão à venda no site da Casa Natura.

Lançado em 1967, “Domingo” é um marco na história da música popular brasileira, representando a transição do movimento bossa nova para a Tropicália. Este álbum é notável por sua mistura inovadora de ritmos e harmonias, além de letras poéticas e profundas, características que se tornariam a assinatura dos dois artistas. É um álbum emblemático na discografia da música popular brasileira, representando a união de dois dos mais influentes artistas do país: Gal Costa e Caetano Veloso.

“Domingo” destaca-se pela sua sofisticação musical e lirismo poético. A produção simples e delicada, centrada nas harmonias vocais de Gal e Caetano, revela uma sensibilidade única que capta a essência da bossa nova ao mesmo tempo em que aponta para novas direções estilísticas. As canções do álbum são um reflexo das mudanças sociais e culturais da época, abordando temas que variam desde o amor e a introspecção até questões mais amplas da condição humana. A importância do disco reside não apenas na qualidade das composições e das interpretações, mas também no seu papel como precursor de um movimento cultural que desafiaria as normas estabelecidas e abriria caminho para novas formas de expressão artística.

Alaíde, com sua vasta experiência e talento indiscutível e Ayrton com uma capacidade muito boa de escolher repertório, prometem interpretações emocionantes e autênticas dessas canções, trazendo novas nuances e profundidade às letras e melodias que já são eternizadas na história da música brasileira. O show será uma verdadeira viagem no tempo, revivendo a magia de “Domingo” e celebrando a genialidade de Gal Costa e Caetano Veloso. Imperdível para os amantes da boa música e da rica herança cultural do Brasil.

Início no rádio

Era início da década de 1950 em Água Santa, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, quando uma adolescente colava os ouvidos no aparelho de rádio, atenta, esperando a voz de Silvio Caldas entoar “Noturno em Tempo de Samba”. Ao ouvir os primeiros versos, parava para anotar a letra e memorizar a melodia. Quando aprendeu a canção, decidiu: iria ao programa de calouros de Ary Barroso, na Rádio Tupi, para apresentá-la.

Não era a primeira vez de Alaíde Costa em um palco. Aos 11, seu irmão mais velho (Adilson, que se tornou jogador de futebol) a havia convencido a se apresentar em uma sessão para cantores amadores no circo montado no bairro, dizendo à garota tímida que, caso não fosse, a polícia iria buscá-la.

Dali em diante, a menina que gostava de cantarolar — mas achava que seria professora — passou a ser inscrita pelos vizinhos em toda oportunidade que aparecia, já que ganhava os prêmios. Aos 16, apaixonada pela canção cheia de climas interpretada por Caldas, resolveu ir se apresentar por conta própria. A escolha da música, a audição cuidadosa em casa e a interpretação lhe renderam nota máxima. “Aí tomei gostinho”, conta.

Aos 89 anos, uma das maiores vozes da música brasileira é também uma artista que sempre se guiou pelo que quis fazer e pelo que acreditava fazer melhor, o que não foi fácil. “Ah, mas você é negra, tem que cantar uma coisa mais animadinha, sabe? Um sambinha”, ouvia. “Me recusei a entrar nessa porque não daria certo”, afirma, categórica. Seu primeiro álbum foi lançado dois anos antes de “Chega de Saudade” (1958), música que marca o início da bossa nova, mas só recentemente ela passou a ser reconhecida entre os grandes nomes do gênero — assim como Johnny Alf, precursor do estilo e, não por acaso, também negro. Durante a carreira, teve grandes parceiros musicais como o próprio Johnny Alf, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Milton Nascimento, Oscar Castro Neves, entre outros.

Apesar dos infortúnios, a cantora continua ativa, defendendo a Bossa Nova, colecionando reconhecimentos e celebrando novas parcerias. Em 2020, seu talento como intérprete lhe rendeu o Troféu Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante, no Festival de Gramado. Alaíde se tornou a artista mais velha a ser laureada com o prêmio.

Em um show que homenageou João Gilberto em abril de 2023, em São Paulo, falou: “Vou fazer 88 anos, tenho 70 de carreira, e olha que loucura: as pessoas me descobriram agora!”. Alaíde nunca parou de cantar, nunca ficou sem gravar (são mais de 20 discos) ou se apresentar em shows. Alaíde é uma das poucas artistas vivas que passou por todos os formatos de mídia – desde o 78RPM, LP, K7, CD e agora o streaming. Nos últimos anos, parcerias deram novo vigor a uma carreira cheia de coerência artística. Em 2022, lançou “O que meus calos dizem sobre mim”, produzido por Emicida, Pupillo (Nação Zumbi) e Marcus Preto, álbum que terá segundo volume em 2024 — eleito o melhor lançamento fonográfico de MPB no 30º Prêmio da Música Brasileira, com a cantora aplaudida de pé por todo o Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em maio de 2023, Alaíde se apresentou em Portugal com a Orquestra de Jazz do Algarve sendo um grande sucesso de crítica e público além mar. Além disso, se apresentou no Carnegie Hall em Nova Iorque em outubro de 2023, no show The Greatest Night Bossa Nova em comemoração aos 60 anos da Bossa Nova, no qual foi aplaudida de pé por mais de cinco minutos. Em novembro de 2023 foi agraciada com o Troféu Raça Negra como melhor cantora do ano.

Em fevereiro de 2024 lançou o álbum “Pérolas Negras” ao lado das amigas Eliana Pittman e Zezé Motta no qual Alaíde transforma o sucesso de Salgadinho “Recado à minha amada” em uma bossa nova dos tempos modernos.

Alaíde Costa lançou em julho de 2024 o segundo disco da trilogia produzida por Emicida, Pupillo (Nação Zumbi) e Marcus Preto, intitulado “E o tempo agora quer voar”. Está em turnê por todo o Brasil com quatro shows: “E o tempo agora quer voar”, com o repertório do último disco, “Alaíde canta Domingo de Gal Costa e Caetano Veloso”, “A Dama da Canção” e “Pérolas Negras”,  no qual se apresenta ao lado das amigas Eliana Pittman e Zezé Motta.

Em 2025 lança um álbum em homenagem à intérprete Dalva de Oliveira pela gravadora Deck com produção de Thiago Marques Luiz, empresário e produtor que acompanha Alaíde desde 2004, e participações especiais de nomes como Maria Bethânia, Roberto Menescal e Edson Cordeiro.

Saraus em Recife

Ayrton Montarroyos começou cedo, aos 11 anos, cantando em saraus e rodas de choro em Recife, sua cidade natal. Aos 18 anos, fez suas primeiras gravações em importantes discos de música brasileira. Um deles, inclusive, indicado ao Grammy Latino em 2013

Aos 20 anos, tornou-se vice-campeão do The Voice Brasil, da TV Globo, interpretando canções elementares da música brasileira, como “Carinhoso” (Pixinguinha/João de Barro). Aos 22, Ayrton lançou o seu primeiro álbum “Ayrton Montarroyos” (2017 -Independente), que recebeu críticas dos principais veículos do Brasil e de países como Japão, como na revista J. Wave.

Seu primeiro disco foi produzido por Thiago Marques Luiz, responsável por álbuns que trabalham com a manutenção da memória popular, através da série “100 Anos”, e pelos últimos trabalhos, quase todos premiados, das carreiras de Cauby Peixoto e Angela Maria. Nesse primeiro disco, Ayrton cantou acompanhado por arranjos escritos por Arthur Verocai, Zé Manoel, Vitor Araújo e Diogo Strausz. E é nesse mesmo disco que interpreta uma canção até então inédita de Zeca Baleiro, “À Porta do Edifício”. “O maior cantor surgido na última década” – Pedro Só (O Globo) / “Um cantor se faz grande também – e sobretudo – pelas escolhas certas como as feitas por Ayrton neste estupendo primeiro álbum.” – Mauro Ferreira (G1) / “Ayrton Montarroyos é, sem dúvida, um dos melhores cantores brasileiros da nova geração. Aposto minhas fichas.” – Raphael Montes (O Globo) / “A estreia solo de Montarroyos, entrega ao público o que há de melhor no trabalho do cantor pernambucano” – Cleber Facchi (Miojo Indie ).

Em 2019 Ayrton lançou pela gravadora Kuarup, o seu segundo álbum: “Um Mergulho no Nada”, que ao contrário do seu disco de estreia, dispunha, para além da voz, de um único instrumento. Edmilson Capelupi, violonista brasileiro conhecido por ter acompanhado Dominguinhos, Rolando Boldrin, Beth Carvalho, Nana Caymmi, Ademilde Fonseca, Noite Ilustrada e tantos outros artistas brasileiros, de diversas gerações, divide o trabalho com o artista. Gravado ao vivo no antigo “Teatro Itália”, em São Paulo, o disco é composto por canções de artistas contemporâneos do intérprete, como “Pé Na Estrada” (Ylana/Yuri Queiroga) e interpretações complexas de compositores veteranos, como da música “Mar e Lua” (Chico Buarque).

Em 2020, longe dos palcos por conta da pandemia, Ayrton criou uma série de pesquisa de música brasileira, em estúdio de gravação, que era transmitida para mais de duas mil pessoas semanalmente, ao vivo. Foram mais de vinte programas cantando e contando histórias da MPB, que depois tiveram seus áudios distribuídos pelas gravadoras Biscoito Fino e Kuarup.

Em 2021, Ayrton fez parte da trilha sonora da trama “Quanto Mais Vida, Melhor!”, da Rede Globo. O cantor participava com duas músicas na novela. “E Então”, música do seu primeiro disco, composta pelo conterrâneo Tiné, foi motivo de Elizabeth Savalla e Marcos Caruso, já “I Can’t Get You Out Of My Head”, foi gravada a pedido da emissora e embalou o par romântico de Vladimir Brichta e Bárbara Colen.

Em 2022, Ayrton entrou em turnê ao lado de Edu Lobo e Vanessa Moreno, preparando a comemoração dos oitenta anos de vida do compositor de obras célebres como “Beatriz”, “Ponteio” e “Arrastão”. O espetáculo virou disco (“Oitenta” – Edu Lobo/Biscoito Fino 2023) que também teve as participações de Monica Salmaso e Zé Renato. No mesmo ano, seguindo a lógica de exposição da sua pesquisa sobre MPB na internet, aliada ao seu canto, começou a publicar, também semanalmente, vídeos em formato de “reels” em plataformas digitais, com milhões de acessos, onde discorre sobre assuntos relevantes à arte em uns e canta músicas que lhe são queridas em outros.

Ayrton Montarroyos, ao longo da sua carreira participou de projetos com grandes músicos como Cristóvão Bastos, Jorge Helder, Vitor Araújo, Thiago Miazzo e com cantores veteranos como Lulu Santos, Monica Salmaso, Alcione, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Angela Maria, Alaíde Costa, Cauby Peixoto e contemporâneos como Kiko Dinucci, Alice Caymmi, Filipe Catto, Maria Gadú, importantes produtores musicais; Zuza Homem de Melo, Hermínio Bello de Carvalho, o cantor ainda fez espetáculos em teatros como o Auditório Ibirapuera (SP), Teatro Municipal (SP), Teatro Guaíra (PR), Teatro de Santa Isabel (PE), Teatro Riachuelo (RJ).

Além dos shows com Edu Lobo, Ayrton está apresentando pelo Brasil o show “Ayrton Montarroyos Canta Caetano Veloso” ao lado dos músicos Rodrigo Campos e Arquétipo Rafa, esse último produtor do seu mais recente trabalho que será lançado em disco no primeiro semestre de 2024, “A Lira do Povo”. Show onde há a participação de Ariane Rodrigues nas flautas e pífanos e que é o terceiro espetáculo simultâneo que o intérprete trabalha atualmente. Batizado pelo compositor e produtor responsável pela descoberta de Clementina de Jesus, Hermínio Bello de Carvalho, o espetáculo trata dos mitos e folclores brasileiros, com uma banda de instrumentação orgânica e quase acústica. Diferente de trabalhos anteriores do artista, a apresentação se propõe a ser uma experiência sensorial para o público que assiste a três suítes que percorrem sertão, mar e cidade do Brasil, em menos de uma hora, em meio a um projeto ambicioso de som, luz, figurinos e cenário. Os três músicos se revezam nos instrumentos e criaram de forma coletiva os arranjos.

Atualmente, Ayrton Montarroyos está duplamente presente na trilha sonora da novela “No rancho fundo”, da TV Globo, que inclui duas gravações inéditas feitas por Ayrton com produção musical dos pianistas Daniel Tauszig e Ricardo Leão. O cantor traz melancolia para o sertão da novela ao gravar a música-título “No rancho fundo” (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) com o toque do violão de Gabriel Deodato e a canção “Sanfona sentida” (Dominguinhos e Anastácia, 1976).

Serviço

Show: “Domingo”, com Alaíde Costa e Ayrton Montarroyos

Data: 30 de março de 2025

Local: Casa Natura Musical, rua Artur de Azevedo, 2.134, Pinheiros

Horário: 19h

Ingressos: Sympla