Alagoas é o estado em que há maior proporção de pessoas passando fome no Brasil, de acordo com dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, divulgados nesta quarta-feira, 14. Desde 2020, cerca de 36,7% das pessoas no estado não possuem acesso a alimentos em quantidade suficiente para se alimentarem durante o dia. Em segundo lugar está o Piauí (34,3%), seguido pelo Amapá (32%), Pará (30%), Sergipe (30%) e Maranhão (29,9%).

Os que possuem os menores índices de fome proporcionalmente falando são Santa Catarina (4,6%), Minas Gerais (8,2%) e Paraná (8,6%). Em 2018, cerca de 5,8% dos brasileiros estavam em insegurança alimentar grave. Em 2020, esta parcela aumentou para 9%. Em 2022, esse contingente chega a incríveis 15,5%, que correspondem a 33 milhões de brasileiros.

“Os resultados refletem as desigualdades regionais e evidenciam diferenças substanciais entre os estados de cada macrorregião do país”, afirma Renato Maluf, coordenador da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), responsável pela pesquisa.

A insegurança alimentar é divida em três categorias: leve é quando a família tem preocupação ou incerteza em relação ao acesso a alimentos no futuro e restringe a qualidade dos alimentos; moderada é quando há alimentos em quantidade insuficiente para todos os moradores da residência; e grave é quando ninguém acessa alimentos em quantidade suficiente e passam fome.

A pesquisa foi realizada em 12.745 domicílios de 577 municípios em todos os 26 estados do Brasil e no Distrito Federal, entre novembro do ano passado e abril deste ano. Segundo os dados, as regiões do Norte e Nordeste são as que mais passam fome proporcionalmente, enquanto que em números absolutos, a região Sudeste se destaca por ser a região mais populosa, e, portanto, a região com maior concentração de pessoas famintas. No Rio de Janeiro, são 2,7 milhões de pessoas que sofrem com a insegurança alimentar grave. Em São Paulo, este número chega a 6,8 milhões.

O levantamento também aponta que a fome é maior em lares onde vivem crianças com menos de dez anos. Cerca de 37,8% das residências onde vivem essas crianças enfrentam insegurança alimentar grave ou moderada. Ou seja, passam fome ou não possuem uma alimentação adequada.

“Fica claro que quanto maior é a quantidade de crianças em uma casa, maior é a chance de ter insegurança alimentar, ou seja, mais fome. Há uma relação direta porque a demanda das crianças é maior”, aponta Rosana Salles Costa, do Instituto de Nutrição da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisadora da Rede Penssan.
“Mesmo as famílias que recebem o Auxílio Brasil, por estarem endividadas, não conseguem utilizá-lo somente para a compra de alimentos. O recurso precisa ser utilizado para pagar outras necessidades básicas, como aluguel, transporte, luz e água”, afirma Anna Maria Segall, pesquisadora da Rede Penssan e da Fiocruz.