Em uma das cenas mais fortes do documentário “Uma Verdade Mais Inconveniente”, exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e com estreia no Brasil marcada para 16 de novembro, um helicóptero sobrevoa uma geleira na Groenlândia durante um dia de calor muito acima do normal para a região. As câmeras registram o momento em que blocos inteiros de gelo explodem por causa da temperatura e caem no mar. É uma prova dos estragos que o aumento da temperatura causam no planeta.

Em campo
Repleto de imagens como essa, o filme é uma continuação de “Uma Verdade Inconveniente”, de Davis Guggenheim, lançado em 2006. A produção mostrava a luta do ex-vice-presidente americano Al Gore para conscientizar as pessoas sobre a gravidade do aquecimento global. Tornou-se um fenômeno de bilheteria e venceu o Oscar de melhor documentário. Sob o comando de Bonni Cohen e Jon Shenk, “Uma Verdade Mais Inconveniente” volta ao tema dez anos depois, mostrando que o problema ainda é sério, mas muita coisa vem sendo feita para resolvê-lo — e o papel de Gore nessa mudança.

Sem um roteiro definido, o filme funciona mais como registro dos bastidores da cruzada de Gore e como manifesto ecológico. Os dois cineastas o acompanharam em viagens pelo mundo durante mais de um ano e intercalam imagens de visitas à Groenlândia, Miami e Índia com trechos de suas palestras. Como manifesto, é eficaz em apresentar o impacto das mudanças climáticas — algo que “Uma Verdade Inconveniente” não conseguiu, pelo excesso de gráficos e poucas cenas fortes. A mensagem é clara: se nada for feito, manifestações como essas serão cada vez mais frequentes.

A conclusão do documentário mostra as negociações que levaram à assinatura do Acordo de Paris. A sequência mostra o peso que teve o encontro de líderes. Com a recente adesão da Nicarágua, relutante em assinar o Acordo de Paris por considerá-lo pouco radical, apenas dois países ficaram de fora: a Síria, em guerra, e os Estados Unidos. Nem Gore, responsável por abrir os olhos de tanta gente, conseguiu incutir a responsabilidade ambiental em Trump.