30/04/2019 - 11:42
Em 30 anos de reinado, o imperador Akihito do Japão e a imperatriz Michiko mudaram com suavidade o extremamente rígido rígido sistema imperial japonês, com a aproximação do povo e a divulgação de uma mensagem de paz.
Sob o aspecto frágil e calmo, o monarca de voz doce, que optou por um casamento de amor com uma plebeia que conheceu em uma quadra de tênis, chegou a expressar em suas viagens remorso pelos abusos cometidos pelo exército imperial durante a primeira metade do século XX em vários países da Ásia.
Seu modo de agir e as visitas a vítimas de catástrofes naturais, ao lado de Michiko, talvez tenham contrariado os tradicionalistas, para os quais seu papel deveria ser limitado às orações e diversos rituais, mas garantiram o respeito e o afeto de seus compatriotas.
Akihito nasceu em 23 de dezembro de 1933, quando o país se lançou em uma conquista militarista da Ásia, em nome de seu pai, o imperador Hirohito. Ele tinha 11 anos quando a Segunda Guerra Mundial terminou em 15 de agosto de 1945 com uma rendição humilhante e incondicional do Japão.
Hirohito foi despojado do status semidivino e se tornou, com a Constituição pacifista imposta pelo ocupante americano, “símbolo do Estado e da unidade do povo”, sem poder político.
Akihito herdou o trono em janeiro de 1989 após a morte de seu pai, mas a cerimônia de entronização aconteceu apenas no ano seguinte e ele se tornou o 125º imperador do Japão.
– Com os afetados –
Michiko Shoda, um ano mais nova, filha de um empresário e aluna de uma escola católica de Tóquio, foi a primeira imperatriz que não procedia da nobreza. O casamento, em 1959, provocou uma grande comoção no país.
O casal decidiu viver com os três filhos, uma menina e dois meninos, incluindo o príncipe herdeiro Naruhito, nascido em 1960, ao invés de deixá-los sob a criação de governantas.
Akihito foi entregue aos três anos a uma educadora, a americana Elisabeth Gray Vining, que mencionaria em suas memórias a vida “triste e isolada” do “pobrezinho”.
A ruptura com a tradição chamou atenção e os gestos de Michiko foram observados continuamente.
A imperatriz acompanhou o marido na maioria dos eventos. Os dois, que para muitos ficaram parecidos com o cabelo grisalho e o andar elegante, se tornaram inseparáveis.
Michiko ajudou a humanizar a relação entre o soberano e o cidadão comum. Ela ensinou o imperador a ajoelhar ou abaixar para falar com as vítimas dos desastres naturais.
Depois do terremoto e tsunami de 2011, que provocaram a catástrofe nuclear de Fukushima, Akihito pronunciou um discurso inédito na televisão para encorajar a população. Dois meses depois, o casal viajou até a região afetada.
– Um legado precioso –
“O legado mais precioso de Akihito e Michiko reside em seus esforços coordenados para colocar o prestígio imperial a serviço dos membros menos favorecidos da sociedade japonesa”, afirmou à AFP Kenneth Ruoff, especialista em Japão da Universidade de Portland.
“Nenhum político se iguala”, explica.
Para muitos, a popularidade do imperador permitiu a este homem superar limites e expressar de forma sutil suas opiniões, apesar da Constituição proibir que aborde temas políticos.
Akihito mostrou claramente uma aversão ao nacionalismo e expressou remorso pelos “excessos” de seu país no século passado, uma posição interpretada às vezes como uma rejeição à postura nacionalista do primeiro-ministro Shinzo Abe. Durante uma famosa visita em 1992, admitiu que o Japão “infligiu grandes sofrimentos à população chinesa”.
Em 2001, chegou a recordar, em uma entrevista coletiva, que parte de seus antepassados procedia da península da Coreia, algo inaceitável para os nacionalistas.
“Acredito que nunca vimos um imperador tão honesto e humano como ele”, escreveu Masayasu Hosaka, autor de um livro sobre Akihito e seu pai.