O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, destacou nesta terça-feira, 25, durante apresentação dos números do setor externo brasileiro, que o ajuste nas transações correntes é “bem expressivo, em um curto espaço de tempo”. Ele se referiu à diminuição do déficit em conta corrente verificada ao longo deste ano, até setembro.

Pelos dados do Banco Central, as transações correntes apresentaram déficit de US$ 465 milhões em setembro, no melhor resultado para o mês desde 2007. Em comparação, em setembro de 2015, o déficit foi de US$ 3,050 bilhões. No acumulado do ano até setembro, o déficit está em US$ 13,582 bilhões, também o melhor resultado para o acumulado no período desde 2007. No ano passada, o resultado estava negativo em US$ 58,882 bilhões.

“Os dados mostraram redução gradual do déficit em transações correntes ao longo deste ano”, disse Maciel. Segundo ele, um dos itens que contribuiu para o déficit menor foi a conta de remessas de lucros e dividendos. Essas remessas somaram US$ 899 milhões em setembro e US$ 12,168 bilhões no acumulado do ano até o mês passado. Em setembro do ano passado, chegou a US$ 2,037 bilhões e no acumulado a US$ 13,633 bilhões.

De acordo com Maciel, remessas menores ao exterior são resultado direto da crise econômica. “A atividade tem sido, principalmente na parte de remessas, fator preponderante”, comentou. “No ano passado, já havia remessas menores. Observamos ao longo do ano (2016) retração da atividade econômica. Isso significa rentabilidade menor para empresas e, portando, lucro e remessas ao exterior menores”, descreveu.

Balança comercial

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central afirmou que o principal determinante do ajuste das contas externas verificado em 2016, em relação a 2015, foi a balança comercial. Pelos dados do BC, o rombo nas contas externas no acumulado de janeiro a setembro está em US$ 13,582 bilhões. No fim do ano passado, era de US$ 58,882 bilhões. Esta diferença, conforme Maciel, foi em grande parte alcançada como resultado da balança comercial.

“Destes cerca de US$ 35 bilhões de diferença ao longo de 2016, US$ 25 bilhões vieram dos resultados da balança comercial”, comentou. Este resultado ocorreu, em especial, por conta das exportações. Maciel destacou que as exportações este ano cresceram em volume 7,6%, apesar da queda de 10,6% nos preços. Em valor, a queda nas exportações está em 3,5% este ano.

No caso das importações, os preços recuaram no ano 10,0% e o país também importou menos no período (-19,0%). Com isso, o recuo em valor é de 22,4%. “Nos últimos meses, as importações vêm reagindo, mas ainda de maneira moderada”, comentou.

Projeções

O chefe do departamento econômico do Banco Central anunciou que a instituição espera déficit em transações correntes no mês de outubro de US$ 2,8 bilhões. Confirmado, o número mostraria aumento na comparação com setembro, quando o saldo negativo somou US$ 465 milhões.

Segundo Maciel, há sazonalidade nas contas externas em outubro, o que explica parcialmente o aumento da expectativa de saldo negativo na comparação com setembro. O chefe do departamento do BC lembra ainda que, em outubro do ano passado, o déficit em transações correntes foi de US$ 4,3 bilhões. Entre as demais razões para o aumento, Maciel destacou ainda a esperada elevação do déficit em viagens internacionais.

Durante apresentação do relatório mensal das contas externas, Maciel também anunciou a expectativa de ingresso de US$ 6,5 bilhões em Investimento Direto no País em outubro, sendo que a parcial registrada no mês até o dia 21 já soma US$ 4,8 bilhões.

Sobre o resultado do investimento estrangeiro de setembro – entrada de IDP de US$ 5,233 bilhões – que ficou abaixo da previsão oficial do BC de US$ 6,5 bilhões, Maciel reconheceu que o dado “ficou um pouco abaixo” da expectativa da casa. “Mas é um dado que tem muita volatilidade e a estimativa foi feita com base na parcial”, disse, ao comentar que não houve nenhum fato que determinasse o resultado abaixo do esperado pela casa.

Viagens internacionais

De acordo com Maciel, o rombo na conta de viagens internacionais deve crescer 90% em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado. “Aparentemente estamos iniciando nova tendência nas despesas de viagens internacionais”, disse, ao comentar que mais brasileiros têm viajado a outros países pela melhora da confiança dos consumidores e a taxa de câmbio mais favorável.

Segundo ele, a conta de viagens internacionais já acumula déficit parcial de US$ 743 milhões em outubro até o dia 21. Os números indicam que o saldo negativo da conta de viagens em outubro deve crescer 90% na comparação com o ano passado. Apenas nas despesas brutas, o aumento deve ser de 50% ante outubro de 2015.

Para Maciel, três fatores explicam esse salto do déficit. O primeiro item é a baixa base de comparação, já que as despesas caíram expressivamente nos últimos anos com a crise. O segundo item, diz Maciel, é o aumento da confiança dos consumidores. “Ainda que esse dado esteja em patamar reduzido, o número mostra uma reação bastante clara, o que incentiva as viagens internacionais”, disse.

O terceiro fator comentado por Maciel é a valorização do real ao longo do ano. Com isso, as viagens internacionais – que são cotadas em moeda estrangeira – ficam mais baratas quando convertidas em reais.