Entre os bancos públicos, o que mais preocupa o mercado, de longe, é a Caixa Econômica Federal. A instituição foi usada para impulsionar o crédito na baixa renda, segmento que está sendo castigado pela queda na renda e pelo desemprego. Desde 2011, a Caixa dobrou a participação em crédito comercial: foi de 6% para 12%. “Do jeito que cresceu, é muito provável que parte do crédito não vai ser recuperado”, diz o economista Mansueto Almeida.

Segundo Sebastian Maus, especialista em setor financeiro da consultoria internacional Roland Berger, os números que se conhecem da Caixa são preocupantes. Entre 2013 e 2015, a inadimplência no total da carteira de crédito passou de 2,3% para 3,6%. “Pode parecer inexpressivo, mas para uma carteira com R$ 700 bilhões, sãos perdas superiores a R$ 7 bilhões”, diz.

O consultor reforça ainda que, nos informes do Banco Central, a inadimplência da Caixa é mais alta que a dos concorrentes em todas as linhas de produtos. “As que são voltadas à pessoa física chegam a ser cinco vezes maior”, diz. Cresceram também os atrasos de pagamento entre 15 e 90 dias. Como boa parte não evolui, significa que a Caixa tem evitado a inadimplência. Mas o dado não chega a ser tranquilizador. Há dois tipos de negociações nesse caso: conseguir um pagamento à vista, dando em contrapartida um desconto; ou ampliar o prazo para o devedor quitar o financiamento. “Nesse caso, não se resolve o problema, porque ele pode voltar lá na frente”, diz Maus.

Há outro dado muito preocupante, segundo João Mello, professor do Insper e especialista em finanças. Cerca de 75% do crédito é imobiliário. Na média do mercado, o índice de inadimplência no segmento é baixíssimo: 0,2%. O da Caixa é o triplo: da ordem de 0,6%. “Se a maioria do crédito é imobiliário, ela não poderia ter índices de inadimplência tão altos”, diz Mello.

Desde 2013, Caixa já vendeu cerca de R$ 22 bilhões da carteira de empréstimos por R$ 2 bilhões – desconto de 91%. Como por volta de R$ 15 bilhões já estavam registrados como perdas na carteira, na prática, o desconto seria de 71,4%. Ainda muito alto. “Se uns R$ 100 bilhões dos R$ 700 bilhões forem créditos podres, e fossem vendidos com o mesmo deságio, seria uma perda de R$ 71 bilhões: acabaria com o capital da caixa”, diz Mello. Diante de tais números, analistas estimam que, por baixo, a Caixa precisa de uns R$ 40 bilhões apenas para recuperar o fôlego. Procurada, a assessoria de imprensa do banco não retornou até o fechamento dessa edição.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.