Apesar de indicações diferentes, o objetivo é igual: evitar a infecção mesmo quando houver contato com o vírus

Por Carolina Kirchner Furquim, da Agência Einstein

O vírus HIV segue sendo um problema de saúde pública mundial, com cerca de 1,5 milhão de novas infecções somente em 2020, segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). Detectada em seres humanos desde 1981, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), a doença causada pelo vírus HIV, ainda não tem cura e não conta com vacinas, apesar dos esforços das comunidades médica e científica no desenvolvimento de um imunizante eficaz.

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Há, contudo, duas medidas profiláticas que atuam como fator de proteção contra a infecção, com indicações precisas para cada caso. Uma delas é a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) e a outra, mais atual e menos conhecida, é a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP). Ambos os esquemas estão disponíveis na rede pública de saúde, gratuitamente. Saiba mais sobre cada um:

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Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP)

Mais conhecida da população, a PEP é indicada a qualquer pessoa que tenha tido relação sexual consentida e desprotegida, seja por rompimento e escape do preservativo ou opção deliberada pelo não uso; pessoas vítimas de violência sexual; e profissionais da área da saúde e outras pessoas que tenham tido acidente ocupacional com instrumentos perfurocortantes (agulha de seringa, por exemplo) ou contato direto com material biológico, mesmo que não tenha certeza se é, ou não, uma amostra infectada. O objetivo da PEP é reduzir o risco de infecção nas situações de exposição ao vírus.

“Pessoas candidatas à PEP precisam agir rápido, preferencialmente nas primeiras duas horas após a relação sexual ou acidente de trabalho, configurando-se uma urgência médica. Quanto mais cedo for dado início ao esquema profilático, maior a efetividade”, diz a infectologista Zarifa Khoury, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Segundo ela, a janela para a adesão à PEP é de, no máximo, 72 horas após a exposição de risco. “Consideramos duas horas o tempo ideal porque, passado esse tempo, o vírus entra nas células humanas e se funde ao material genético, dando início à sua multiplicação. O objetivo do esquema é fazer o bloqueio dessa fusão”, continua a médica.

A PEP dura 28 dias e é feita com três medicamentos antirretrovirais, geralmente tenofovir, lamivudina e dolutegravir, os mesmos previstos no coquetel usado por pessoas infectadas pelo HIV. “O paciente precisa seguir o tratamento de forma estrita e, uma vez finalizado, deve fazer acompanhamento por três meses com exames de sorologia”, explica Zarifa. Não há limite de vezes para o uso da PEP, mas, ao perceber que a mesma pessoa busca o serviço de saúde muitas vezes com essa finalidade, a equipe de saúde deve oferecer orientação específica quanto a medidas comportamentais e até mesmo outro esquema profilático, com base na prevenção.

Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP)

A PrEP, ao contrário da PEP, não se trata de medida emergencial, mas preventiva. “Ela consiste na toma diária de duas drogas, tenofovir e entricitabina, em um único comprimido, com o objetivo de preparar o organismo para um eventual contato com o vírus HIV”, explica a médica. Ou seja, o indivíduo se prepara antes de uma relação sexual de risco. “A PrEP é inicialmente indicada a gays e outros homens que façam sexo com homens, profissionais do sexo e pessoas trans, que estão sob maior risco e concentram o maior número de infectados pelo HIV no país. Quem frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais, faz uso repetido da PEP ou tem episódios frequentes de ISTs [infecções sexualmente transmissíveis], também é candidato”, diz a especialista.

Para ter o efeito desejado, o usuário deve tomar a medicação diariamente, sem falhas. Do contrário, pode não haver na corrente sanguínea uma concentração suficiente dos ativos capazes de bloquear o vírus. Há, também, um período de “carência” que precisa ser respeitado pelo paciente. “Após o início do tratamento, o efeito esperado se dará em sete dias para a relação anal e 20 dias para a relação vaginal. Os exames de controle devem ser feitos a cada três meses e incluem avaliação do rim e do fígado, dado o potencial nefrotóxico e hepatotóxico [toxicidade para o rim e fígado, respectivamente] da medicação, além de teste de HIV e testes de outras ISTs, como sífilis, clamídia e gonorreia”, coloca a médica.

PrEP não permite abandono do preservativo

 Além de não oferecer proteção contra outras doenças sexualmente transmissíveis, a PrEP não deve fazer com que o usuário se sinta compelido a abandonar o uso do preservativo. “Não se trata de uma simples prescrição. A PrEP deve ser encarada como uma segunda barreira de proteção, que vai agir em caso de falha da camisinha. Toda pessoa candidata a essa profilaxia deve ser muito bem orientada”, diz Zarifa.

No consultório

 Nem só o público especificado nas indicações da PrEP pode fazer uso dela. No dia a dia do consultório médico, a infectologista comentou que pessoas de fora do grupo de risco se interessam pela medida preventiva, principalmente casais chamados de “sorodiferentes”:

“Casais heterossexuais ou homossexuais, em que um vive com HIV e outro não, têm buscado essa alternativa mesmo quando o soropositivo tem carga viral indetectável, ou seja, não é capaz de transmitir o vírus para o outro. Na conversa com os pacientes, entendemos que, ainda que não haja risco real de infecção, psicologicamente há uma tensão maior, especialmente no paciente HIV positivo. Mesmo estando indetectável, ele não relaxa, comprometendo a qualidade da relação sexual e do relacionamento. Então, juntos, decidem que é melhor que a companheira ou companheiro faça uso da profilaxia”, finaliza.

A PrEP, assim como a PEP, é encontrada gratuitamente na rede pública de saúde. Desde o fim de 2021, o esquema, que era exclusivamente controlado pelo governo, agora pode ser prescrito por médicos em consultórios particulares. A entrega do medicamento, no entanto, segue via SUS.

(Fonte: Agência Einstein)

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