Ainda que Tuvalu desapareça, seu premiê quer salvar identidade do arquipélago

Ainda que Tuvalu desapareça, seu premiê quer salvar identidade do arquipélago

A bandeira de Tuvalku tem nove estrelas amarelas, uma para cada ilha que integra este minúsculo arquipélago do Pacífico, onde vivem 11.000 pessoas.

Atualmente, dois dos atóis estão prestes a desaparecer sob as águas, uma consequência da crise climática, que já provocou danos irreversíveis e tornará o país inabitável nas próximas décadas.

O que acontece quando um país desaparece debaixo d’água e todo o seu povo precisa abandoná-lo?

“Esta é exatamente a ideia por trás da Rising Nations Initiative (Iniciativa para os Países Emergentes): convencer os membros da ONU para que reconheçam nossa nação embora estejamos sob as águas, porque é nossa identidade”, explica à AFP o primeiro-ministro Kausea Natano, que participa da Assembleia Geral da ONU.

As mensagens de simpatia e as promessas vagas da comunidade internacional de pouco têm servido aos países insulares do Pacífico, que embarcaram nesta quarta-feira (21) em um processo legal formal para manter seu status de Estado, ainda que aconteça o pior.

O plano pretende reafirmar o compromisso da comunidade internacional com a soberania de Tuvalu e outros países insulares, criar um repositório para a bagagem cultural das ilhas, designá-las Patrimônio Mundial da Unesco e aumentar o financiamento para tomar medidas que as ajude a se adaptar.

A situação já é desesperadora.

Assim como as denominadas “ilhas flutuantes”, que não estão diretamente conectadas com a terra abaixo, os atóis se situam sobre “espelhos” de água doce, cada vez mais permeados pela água salgada dos oceanos, que aumentam seu nível.

Isto os tornou dependentes da água da chuva para o consumo pessoal e a agricultura, mas Tuvalu sofre há seis meses com uma estiagem severa.

“Temos que fazer centrais dessalinizadoras, mas são muito caras e consomem enormes quantidades de eletricidade”, explica Natano.

As ilhas do arquipélago estão praticamente no nível do oceano. O ponto mais elevado tem apenas 4,5 metros, mas em outros locais têm apenas um metro ou um metro e meio.

Assim, as ilhas ficam expostas às ondas, que varrem os cultivos e impregnam a terra de sal, explica Natano.

A situação é profundamente injusta: as nações insulares do Pacífico são as que têm menor responsabilidade pelo aquecimento global, produzindo apenas 0,03% das emissões mundiais.

Mas ainda que os países mais contaminantes do mundo corrijam seu curso e cumpram a meta do Acordo de Paris para limitar o aquecimento a +1,5 ºC, para as nações mais vulneráveis, como as Ilhas Marshal e Tuvalu, será tarde demais.

– “Vivemos como uma comunidade” –

Natano diz que muita gente começou a deixar o país – com destino à Nova Zelândia, Austrália ou Estados Unidos – depois da passagem devastadora do ciclone Pam em 2015, embora as oportunidades de migração sejam limitadas, devido às estritas políticas migratórias.

“Em Tuvalu, vivemos como uma comunidade”, conta Natano, visivelmente emocionado. “Até as pessoas que vão embora não querem partir, olham para seus filhos e netos e agora têm que buscar um futuro para eles”.

O país aderiu ao mecanismo de compensações por “perdas e danos”, oferecido pelos países ricos por sua contribuição histórica e atual à crise climática, mas o problema está longe de uma solução.

Natano ainda espera receber a assistência de que seu país precisa para que as pessoas possam permanecer na ilha.

Agora, está em plena negociação para definir como será possível manter uma identidade em separado, caso ele e seus concidadãos tenham que ir para outros países, mas é algo difícil e representa “o último recurso”, assegura.

“Quando se está na Austrália, você se torna um australiano. O mesmo na Nova Zelândia. Nós queremos ficar no nosso país, manter nossa cultura e nossas tradições, e preservar nosso legado”, argumenta.