O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta sexta-feira, 16, que os últimos dados da inflação nos Estados Unidos, mais altos do que o esperado, não afetaram as expectativas, assim como o plano de voo da autarquia no Brasil. Durante live da Bradesco Asset para debater os rumos da política monetária, Galípolo lembrou que os últimos índices de inflação nos Estados Unidos esvaziaram apostas de início de redução de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em março. Também diminuíram as expectativas de cortes dos Fed Funds neste ano.

Apesar disso, essa mudança de percepção no mercado não teve grandes impactos em termos de revisão de expectativas no Brasil, o que, segundo Galípolo, acentua a recomendação de o BC seguir a “trajetória de voo” indicada, com a “devida cautela”.

O diretor do BC observou que, ainda que o diferencial entre os juros dos Estados Unidos e do Brasil se aproxime de um nível historicamente baixo, os investidores consideram que, comparado a outras alternativas, o Brasil segue apresentando um diferencial atrativo, dando margem para o BC prosseguir no ciclo de flexibilização monetária.

Galípolo observou que não existe uma meta de diferencial de juros perseguida pelo BC. Apesar da preocupação da transmissão cambial à inflação, o diretor do BC destacou na live o bom comportamento do real. Ele ressaltou que o BC vem adotando uma postura de cautela, observando indicadores “a cada momento”.

Paradoxo

O diretor de Política Monetária do Banco Central disse ainda que autoridades monetárias, assim como economistas, lidam com um paradoxo entre o desempenho resiliente tanto da atividade econômica quanto do mercado de trabalho e o processo de desinflação ainda mostrando bom comportamento. Segundo Galípolo, a correlação pouco usual entre as variáveis econômicas explica a cautela adotada pelos bancos centrais nas decisões sobre juros.

“Tem muita novidade em como essas correlações vêm se apresentando no mundo. Por isso, é importante manter cautela”, comentou Galípolo.

Segundo o diretor do BC, as surpresas positivas são, talvez, a marca principal do momento da economia global. “Não só fomos surpreendidos pela diferença entre o esperado e o que ocorreu nos indicadores, mas também pela correlação pouco usual entre variáveis. Isso tem feito com que as autoridades monetárias estejam mais data-dependent“, disse.

Sobre o Brasil, Galípolo pontuou que a atividade também vem surpreendendo positivamente, com correlação igualmente incomum frente aos preços. Ele também destacou que o real, amparado por resultados positivos da balança comercial, apesar da desaceleração chinesa, apresentou bom comportamento mesmo nos momentos de maior volatilidade dos Treasuries.

Apesar disso, assim como acontece em outros mercados, as surpresas e a correlação não usual entre variáveis também exigem cautela do BC no Brasil, ponderou Galípolo.

Intervalo entre reuniões do Copom

O diretor de Política Monetária do Banco Central salientou que da última para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a cúpula da instituição terá em mãos três medições de IPCA para subsidiar o grupo sobre os próximos passos em relação à decisão de juros. “Temos o benefício agora, desta vez, de ter três medições de IPCA que vão subsidiar bastante a gente e para entender se há algo que se configura realmente de tendência ou se estamos vendo algumas volatilidades que têm provocado algum tipo de ruído”, disse.

Ele afirmou que o Copom tem buscado ser bastante transparente em relação ao que o colegiado está olhando e prestando atenção.

O aumento seguido de baixa dos preços das passagens aéreas virou, de acordo com o diretor, um caso de estudo global. “Essa volatilidade das passagens aéreas tem gerado bastante ruído nas medições de inflação para um lado e para o outro”, comentou.

Ele citou outros exemplos, como o de aumento de condomínios e aluguéis, que depois surpreenderam para baixo. “Eu aprendi que em 45 dias muita coisa muda de uma reunião do Copom para outra.”

Há, conforme Galípolo, uma dificuldade em separar o que é sinal do que é ruído. “Por isso, nesse cenário, entre os males que se pode produzir ou dos riscos que se tem a correr, se emocionar pouco, ter uma reação pouco emocionada sobre esses números talvez seja o melhor a ser feito por parte da autoridade monetária, ainda que isso possa ensejar algum tipo de crítica sobre um conservadorismo maior ou ritmo um pouco mais lento de reação a essas questões”, argumentou.

O diretor defendeu que, por isso, a comunicação do BC insiste no uso das expressões serenidade e parcimônia, argumentando que esta seria uma forma de “causar menos dano ao paciente”.

A conversa com Galípolo na live da Bradesco Asset foi conduzida pelo economista-chefe da instituição, Marcelo Toledo.