06/12/2019 - 8:35
Os Estados Unidos acusaram, nesta sexta-feira, o Irã de interferir no processo de formação de um governo no Iraque e impôs sanções a líderes de milícias iraquianas, enquanto em Bagdá um ataque contra manifestantes terminou com ao menos 12 mortos.
Esses novos falecimentos elevam a 440 o número total de mortos, em sua maioria manifestantes, desde o início dos protestos, que também deixaram 20.000 feridos, segundo boletim realizado pela AFP com base em fontes médicas e dos serviços de segurança.
O grande aiatolá Ali Sistani, líder dos xiitas do Iraque, pediu que o novo governo seja nomeado “sem ingerência estrangeira”, enquanto as maciças manifestações que percorrem o país entram em seu terceiro mês.
Ao menos 12 manifestantes foram mortos em Bagdá por um grupo de homens armados que atacou o estacionamento que as vítimas ocupavam há semanas.
Os manifestantes, que pedem uma mudança de regime no país, temiam episódios de violência com a chegada de simpatizantes do movimento pró-iraniano Hashed Al Shaabi na Praça Tahrir, epicentro do protesto, em uma demonstração de força na quinta-feira.
No incidente desta sexta-feira, em uma capital onde reina o caos, homens armados chegaram a bordo de caminhonetes ao edifício onde fica o estacionamento e atiraram, segundo uma emissora de TV pública.
Os manifestantes querem um governo totalmente renovado, uma nova Constituição e uma classe política diferente, não corrupta como a atual, que em 16 anos roubou o equivalente a duas vezes o PIB do país.
Os Estados Unidos denunciam repetidamente o que consideram uma intervenção iraniana nos assuntos iraquianos.
“Estamos pedindo aos vizinhos que não se intrometam nem enfraqueçam a Constituição do país”, disse David Schenker, o principal diplomata dos Estados Unidos para o Oriente Médio, sobre a formação de um governo no Iraque após a saída, em novembro, do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi.
Schenker declarou que a presença do comandante de elite iraniano Qasem Soleimani em Bagdá é “incrivelmente problemática” e constitui “uma grave violação da soberania iraquiana”. Soleimani é o chefe da força Al-Qods dos Guardiães da Revolução, exército ideológico do Irã.
Paralelamente, o Tesouro americano anunciou sanções a líderes de milícias iraquianas com laços com iranianos.
As sanções recaem sobre três líderes de milícias – Qais al-Khazali, Laith a-Khazali e Hussein Falil Aziz al-Lami – que são parte das Forças de Mobilização Popular, ou Hashed al-Shaabi.
O aiatolá de 89 anos, o principal líder religioso xiita do Iraque, interveio direta ou indiretamente nas nomeações e destituições de todos os primeiros-ministros desde a derrubada do ditador Saddam Hussein, após a invasão do país pelos Estados Unidos em 2003.
Sistani garantiu que nesta ocasião “não faz parte” das negociações e não desempenha “nenhum papel” no processo em andamento para formar governo.
Desde 1 de outubro, o Iraque sofre episódios de violência e é palco de manifestações maciças. Os cidadãos protestam contra seus dirigentes, em um dos países más corruptos do planeta, contra o desemprego, que afeta um em cada quatro jovens, e contra a pobreza endêmica.