A demissão do técnico Diego Aguirre, no domingo, está longe de ser uma surpresa no São Paulo. Desde a saída de Muricy Ramalho, em abril de 2015, ninguém conseguiu durar 50 jogos no comando da equipe. Aguirre poderia ter chegado a 48, se o trabalho não tivesse sido encerrado a cinco rodadas do fim do Campeonato Brasileiro.

Mudanças de planos, de filosofia e, principalmente, ausência de títulos explicam por que o clube se tornou uma verdadeira máquina de triturar “professores”. Em pouco mais de três anos, foram sete efetivos (sem contar interinos, como Milton Cruz, Pintado e o próprio André Jardine, que assumirá o posto até o fim do ano): Juan Carlos Osorio, Doriva, Edgardo Bauza, Ricardo Gomes, Rogério Ceni, Dorival Júnior e Aguirre.

“Você busca o ideal, que é um trabalho com continuidade”, disse nesta segunda-feira Raí, diretor executivo de futebol, ao explicar que a ideia inicial em relação a Aguirre era de um casamento mais duradouro. “Pelo rendimento nas últimas dez rodadas, a gente sentiu que o trabalho não teve uma reação”, emendou.

Depois de liderar o Brasileirão, o time caiu de rendimento, o que pesou para a mudança de planos da diretoria e a repetição da rotina de trocar de técnico.

O mais “longevo” pós-Muricy, o argentino Bauza, ficou 48 partidas no cargo. Deixou o Morumbi seduzido pelo convite para treinar a seleção argentina, em agosto de 2016. Foi pela proposta de uma seleção, mas a mexicana, que o colombiano Osorio também resolveu ir embora, em outubro de 2015, após 26 jogos como técnico são-paulino.

Mas nos dois casos acima, principalmente no de Osorio, não foi somente uma ambição profissional individual que encurtou o relacionamento com o clube. Considerado um modelo de gestão extracampo até o período do tricampeonato brasileiro (2006 a 2008), o São Paulo passou a conviver com instabilidade política, que afetou diretamente o futebol.

Pegando ainda o exemplo de Osorio, ele saiu depois de ver o então presidente da época, Carlos Miguel Aidar, brigar (literalmente) com seu vice, Ataíde Gil Guerreiro. Ainda conviveu com um problema familiar a muitos que o sucederiam: seguidos desmanches de elenco no meio da temporada, já que a venda de atletas se tornou uma das principais fontes de recursos do clube, mas que estragavam todo um planejamento prévio.

COERÊNCIA? – Curioso é que em meio a essa lista de treinadores de curta duração, há todo tipo de perfil: o clube já apostou nos estrangeiros (Osorio, Bauza e Aguirre), nos novatos (Doriva), em medalhões (Ricardo Gomes), num ídolo indiscutível (Ceni). O que mostra também a falta de foco da gestão atual, do presidente Leco, responsável pela maioria das contratações.

No fim das contas, o jejum de títulos – a Copa Sul-Americana de 2012 foi o único nos últimos dez anos – é o que parece determinar os rumos do clube. “Qualquer pergunta sobre comando em 2019 é algo que a gente vai discutir internamente e não vamos emitir opinião nesse momento”, disse Raí, que não descartou efetivar Jardine, caso ele vá bem. Mas se não for…