Centenas de tratores paralisaram o centro de Bruxelas nesta segunda-feira (26) para pressionar os ministros da Agricultura dos países da União Europeia (UE), que discutiram propostas de flexibilização e uma possível revisão da Política Agrícola Comum (PAC).

Os organizadores que convocaram os protestos estimam que cerca de 900 tratores e máquinas agrícolas bloquearam pontos estratégicos da capital belga.

Os participantes atearam fogo a pneus próximo às sedes das instituições europeias e a polícia respondeu com gás lacrimogênio.

O movimento é o ápice de semanas de protestos de produtores agropecuários da UE, de Espanha à Polônia, para denunciar a concorrência de países de fora do bloco, a burocracia e as imposições em matéria de biodiversidade e emissões poluentes.

Em uma tentativa de acalmar o descontentamento, os países do bloco convenceram a Comissão Europeia – órgão executivo da UE – a sugerir uma simplificação nas regras da política agrícola.

Ao final da reunião, o titular de Agricultura da França, Marc Fesneau, afirmou que os ministros coincidiram em que as propostas da Comissão representam “um primeiro passo concreto na direção correta”.

Por isso, “convidaram a Comissão a concluir [as propostas] rapidamente, com medidas novas e mais ambiciosas”, acrescentou.

– ‘Um monstro burocrático’ –

Ao chegar à reunião, o ministro de Agricultura da Alemanha comparou a Política Agrícola Comum a “um monstro burocrático”. “A prioridade deve ser o trabalho nos campos e não a papelada burocrática”, acrescentou.

Seu colega da Bélgica, David Clarinval, considerou que uma revisão da PAC seria “algo bom” para “pagar melhor” aos produtores.

Além disso, os ministros debateram algumas das propostas da Comissão, como a flexibilização das normas sobre pousio de terras e sobre periodicidade e modalidade de controles e inspeções.

As propostas lançadas pela Comissão em janeiro incluem medidas de flexibilização das inspeções, que seriam reduzidas quase pela metade.

Um diplomata adiantou durante o fim de semana que o debate de hoje estaria centrado em “medidas de curto prazo, que podem ser aplicadas muito rapidamente”.

Um passo posterior seria a realização de possíveis revisões legislativas da PAC, que requerem negociações muito mais complexas.

– ‘Não podemos continuar produzindo’ –

As entidades que convocaram o protesto em Bruxelas sustentam que as medidas não são suficientes.

Exigem, entre outras coisas, o fim definitivo das negociações comerciais com os países do Mercosul, depois que a Comissão simplesmente reconheceu que, “atualmente, não se dão as condições” para conclui-las.

Adoración Blanque, presidente da organização ASAJE em Almeria, na Espanha, disse à AFP que, com a PAC atual, existem “tantas travas burocráticas que sequer chegamos a cumpri-las, são tantas exigências e burocracia que nós agricultores não podemos continuar produzindo”.

Para a produtora rural Marieke Van de Vivere, a carga burocrática é excessiva.

“Quando um de nossos cavalos faz cocô, temos que informar quanto ele fez, o que acontece com esse cocô, para onde vai e quando. É muito louco para poder explicar”, queixou-se.

Os produtores agropecuários também consideram insuficiente a proposta da Comissão de limitar determinados segmentos das importações agrícolas da Ucrânia, que se beneficiam de isenção tarifária como parte do apoio dado ao país após a invasão da Rússia.

Este aspecto é particularmente sensível na Polônia, onde produtores agrícolas bloqueiam a entrada dos cereais ucranianos e chegaram a espalhar nas vias uma carga de aproximadamente 160 toneladas de milho provenientes da ex-república soviética.

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