Um estranho que visse o pedreiro Kelvin Luiz de Assis Soares, de 24 anos, levando pela mão a filha Maria Eduarda, de 3 anos, para brincar no parquinho de Álvaro de Carvalho, no interior de São Paulo, não o reconheceria nas imagens em que ele aparece agredindo violentamente, com socos, joelhadas e chutes, a mãe da criança, Judy Aparecida Brito de Souza, de 18 anos. Os moradores da cidade de 4,7 mil habitantes, no entanto, já estão acostumados com seu histórico de violência.

O vídeo que registrou a agressão, divulgado em 31 de outubro, correu o Brasil, foi reproduzido no exterior e causou uma onda de revolta e reprovação.

Desde o dia último dia 2, Soares está preso na cadeia pública de Pompeia. A delegada da Polícia Civil Darlene Rocha Costa pediu a prisão preventiva depois que testemunhas, ameaçadas pelo rapaz, negaram-se a depor com medo de represálias. Ele ainda ameaçou de morte a própria vítima, caso fosse denunciado. A jovem demorou dois dias para ir à polícia e só o fez depois que as imagens, gravadas por uma câmera do bar onde aconteceram as agressões, começaram a circular. Ela foi colocada sob a proteção da Justiça.

A delegada contou que, em pouco mais de um ano atendendo a delegacia de Álvaro de Carvalho, Soares já deu muito trabalho. “Ele é agressivo, muito violento e frio. Nesse caso, não demonstrou o menor arrependimento, jogou toda a culpa nela, como se ela tivesse merecido apanhar.”

Em setembro de 2015, o rapaz agrediu um idoso com uma foiçada nas costas, o que lhe rendeu um processo por tentativa de homicídio. “Ele estava com o som alto e a vítima viu uma viatura e foi reclamar. Esse Kelvin pegou uma foice, foi à casa dele e atingiu suas costas, quase matando.”

Outro caso, em janeiro deste ano, já rendeu uma condenação, segundo a delegada. Num rodeio, Soares atacou um garoto que teria passado perto de Judy, então sua namorada. “Segundo as testemunhas, o menino não mexeu com ninguém, ele foi atrás e bateu tanto que até quebrou o maxilar. O garoto teve de passar por cirurgia. A marca da sola da bota dele ficou no rosto da vítima.”

Soares ainda enfrentou os policiais, foi autuado por desacato e, na delegacia, debochou deles. “Ele tem a cobertura do pai, que é vereador. O pai também está incurso na Lei Maria da Penha”, contou a delegada.

O vereador Luiz Geraldo Assis Soares (DEM), pai de Soares, foi acusado pela mulher, mãe do rapaz, de tê-la agredido e quebrado todos os móveis da casa. Segundo moradores, a mulher só deu queixa porque um dos seus irmãos interveio e também teria sido agredido.

O casal se separou e o filho foi morar com a mãe. Conhecido como Luiz Guarda, o vereador é benquisto na cidade. Ele só não disputou mais um mandato nas eleições deste ano porque seu irmão, Carlos Souza, o Calote (PSDB), decidiu concorrer. Ele teve 83 votos e não se elegeu.

Na delegacia, o vereador tentou justificar o comportamento do filho alegando que a jovem tinha dado causa. Segundo a delegada, ele disse que a mãe de seu neto ficava até de madrugada bebendo e não cuidava da criança. “Fica até a noite na porta do bar, ela não é mulher para ter filho. O que aconteceu justificou por causa dela”, disse à TV Tem. Não há no Conselho Tutelar da cidade nenhuma denúncia ou queixa envolvendo a falta de cuidados de Judy com a filha.

Segundo a delegada, Soares mentiu quando tentou justificar a agressão dizendo que a mãe havia deixado a filha sozinha na casa para ir ao bar. “Apuramos que a criança estava com a avó, mãe da Judy.”

A jovem deixou a cidade depois de denunciar Soares, mas retornou após sua prisão. Ela voltou a usar as redes sociais e tenta retomar a vida. A garota contou que trabalha como apanhadora de laranjas em fazendas da região, por isso deixa a filha na creche.

Judy contou ter conhecido o rapaz quando estudava na Escola Estadual Rafael Paes de Barros. Eles namoraram e ela ficou grávida de Maria Eduarda. “Ele é ciumento, possessivo e violento. Pessoas amigas já tinham falado pra tomar cuidado com ele.”

Ela conta que, na noite em que estava no bar com uma amiga, ele chegou e foi batendo. “Foi soco na cara, porrada, chute, joelhada. E me xingava de vagabunda, de p…, que eu tava lá por dinheiro. E dizia que eu merecia apanhar mais, e batia. As pessoas ficavam olhando, não faziam nada. Eu estava com aparelho e minha boca estourou.” Judy tem medo que ele saia da prisão ainda mais violento, por isso já pensou até em se mudar da cidade.

Até a terça-feira, 8, Soares não tinha constituído advogado. Ele não foi autorizado a dar entrevista. Seu pai, o vereador Luiz Geraldo, foi procurado na Câmara e pelo celular, mas não deu retorno. A mãe de Soares informou que não falaria sobre o caso. Nenhum outro familiar do rapaz quis falar com a reportagem.