Agressão e dependência: especialista fala sobre relacionamento de Bia Miranda

A influenciadora anunciou o fim de seu namoro com Samuel Sant’Anna, conhecido como Gato Preto, e relatou ter sido agredida pelo ex

Bia Miranda e Gato Preto
Bia Miranda e Gato Preto Foto: Instagram

(ATENÇÃO: esta reportagem aborda violência doméstica e violência contra a mulher, podendo ser gatilho para algumas pessoas. Caso você se identifique ou conheça alguém que esteja passando por esse problema, denuncie! DISQUE 180).

A influenciadora Bia Miranda, de 21 anos, anunciou o fim de seu namoro com Samuel Sant’Anna, conhecido como Gato Preto, de 32, e relatou ter sido agredida pelo ex após a separação. “Ele acabou de me bater. Me deu um murro na cara. Estou chamando a polícia agora”, afirmou, em vídeo publicado nesta quarta-feira, 11, nas redes sociais.

Segundo Bia, ela também foi ameaçada: “Falou que vai pegar a Maysha. Me enforcou. Quase que ele conseguiu uma desgraça”, disse, referindo-se à filha de um mês do casal.

Ela ainda contou que estava hospedada em um hotel em São Paulo e que a entrada de Samuel no quarto foi autorizada pela recepção. O episódio ocorreu um dia após ela anunciar um novo término com o ex. O relacionamento dos dois é marcado por idas e vindas, discussões e episódios de ciúmes.

“Estou emocionalmente desgastada e não aguento mais esconder as partes difíceis do relacionamento. As pessoas só veem a parte boa, mas tem muita coisa ruim também. Hoje, tomei a decisão de colocá-lo para fora da minha vida de verdade”, declarou Bia antes da agressão, em seu desabafo no Instagram.

De acordo com ela, o ponto de ruptura mais recente ocorreu durante uma festa promovida por MC Mirella. Durante a comemoração, uma mensagem de seu cabeleireiro, amigo pessoal, teria gerado uma crise de ciúmes. Bia relatou que Samuel pegou seu celular, acusando-a injustamente: “Disse que eu estava envolvida com um homem mais velho, quando era meu amigo gay”, contou.

Ainda no evento, Samuel teria se aproximado de forma agressiva. “Ele puxou meu cabelo como se fosse brincadeira, mas dessa vez foi sério”, disse. Após o episódio, a influenciadora afirmou que, desta vez, não pretende reatar. “É sempre assim: ele vai embora, volta, eu perdoo. Mas, desta vez, mesmo ele vindo atrás, eu disse não.”

Relacionamento conturbado

Vale destacar que o relacionamento de Bia com o agora ex-companheiro tem um vasto histórico de relações conturbadas e términos públicos — com episódios anteriores também marcados por acusações de violência e dependência emocional. Em março de 2023, Bia anunciou o fim de seu noivado com Gabriel Roza, acusando-o de roubo e tentativa de agressão: “Ele começou a me maltratar, xingar e também quase me agrediu no quarto!”, relatou na ocasião. Segundo ela, o ex roubou seu carro e R$ 20 mil da conta conjunta. Gabriel negou as acusações, mas admitiu ter levado o carro para o Rio de Janeiro.

Já em agosto de 2024, após o nascimento do filho, Kaleb, Bia terminou com DJ Buarque. O rompimento ocorreu dias depois de a mãe de Bia, Jenny Miranda, comparecer à casa da filha com a polícia, alegando suspeita de cárcere privado e violência doméstica. Bia e o DJ negaram as acusações, mas anunciaram o fim da relação. Em entrevista posterior, Buarque afirmou que o término se deu por “desgaste natural”, sem relação direta com as denúncias públicas.

Agora, diante do novo caso de agressão relatado por Bia com Samuel Sant’Anna, a influenciadora volta a expor a fragilidade emocional que atravessa seus relacionamentos. “Quando eu era desapegada, era mais feliz. Quem não se apega, não sofre”, desabafou. Aos seguidores, ela reforçou que pretende romper definitivamente o ciclo: “Foi a primeira vez que falei com tanta firmeza: ‘Vai embora. Acabou.’”

Procurado pela reportagem de IstoÉ Gente, o psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamentos, analisou a dependência emocional relatada por Bia Miranda em seu relacionamento com Samuel Sant’Anna. Leia na íntegra:

“Muitos ainda se perguntam por que uma pessoa não consegue sair de um relacionamento tóxico. A resposta, frequentemente, está relacionada a um quadro de dependência emocional. Esse transtorno psicológico cria laços profundos com a dinâmica de relações tóxicas, dificultando o rompimento, mesmo diante de evidentes sinais de sofrimento.

A dependência emocional, por sua vez, costuma estar associada a um fenômeno chamado dependência conjugal — uma necessidade quase irracional de permanecer com determinada pessoa, mesmo quando essa relação traz mais prejuízos do que benefícios. O cérebro, por diversos fatores emocionais e vivenciais, passa a interpretar essa presença como essencial à sobrevivência emocional, mesmo diante da dor.

A toxicidade em uma relação pode ser comparada, fisiologicamente, ao consumo de mil cigarros por dia. Ainda assim, muitas vítimas continuam enxergando algum tipo de “complemento existencial” naquele parceiro, mesmo que essa percepção seja, na maioria dos casos, completamente delirante. E esse delírio, apesar de disfuncional, cumpre uma função: sustentar o ciclo vicioso da dependência.

É fundamental entender que uma relação saudável não pode, simultaneamente, ser fonte de sofrimento profundo. A coexistência de conforto e dor constantes em um mesmo vínculo é uma ilusão. Por isso, falamos em delírio funcional — uma distorção da realidade que alimenta a permanência em relações disfuncionais e, muitas vezes, perigosas.

Esse ciclo é o que a psicologia classifica como ciclo vicioso patológico. A pessoa afetada pela dependência emocional entra e se mantém nesse padrão, muitas vezes por anos, reforçando, a cada recaída, o vínculo com o sofrimento.

É importante também distinguir conceitos: relacionamentos tóxicos não necessariamente envolvem agressões físicas, mas sim maus-tratos emocionais, humilhações, manipulações e instabilidades constantes. No entanto, quando há qualquer tipo de agressão física, a relação deixa de ser apenas tóxica e passa a ser considerada abusiva.

Essa distinção é crucial: o comportamento abusivo inclui toques físicos agressivos, empurrões, tapas ou qualquer forma de violência corporal. Isso não é apenas inadmissível — é crime. E, embora a toxicidade possa ainda estar presente nesse tipo de relação, o elemento predominante passa a ser o abuso físico e emocional.

A proposta terapêutica inicial para quem vive esse tipo de situação é clara: tomar consciência de que agressores não mudam. É necessário interromper o ciclo de idealização e corrigir os delírios que sustentam essa permanência. A partir daí, inicia-se um processo de reconstrução da autoestima, essencial para desenvolver um “aparelho emocional” forte e equilibrado, capaz de sustentar uma vida livre desses padrões.

Essa reconstrução passa por reavaliar a autoimagem e investir em acompanhamento psicoterapêutico. Fortalecer a autoestima é, em muitos casos, o primeiro passo real para romper com a dependência emocional e conjugal.

Romper com esse ciclo não se trata apenas de sair de uma relação: envolve romper com o vínculo psíquico, com o agressor e com todos os laços que ainda o conectam emocionalmente à vítima. Isso inclui familiares, amigos e ambientes associados à relação.

É fundamental que a vítima se permita redescobrir sua autonomia: praticar exercícios físicos, retomar projetos pessoais e profissionais, viajar, ocupar o tempo com atividades sociais. Reorganizar a vida é possível e necessário.

Hoje, diferentemente de décadas passadas, as mulheres têm meios legais, redes de apoio e informação para sair dessas situações. A mulher não nasceu para apanhar, tampouco para ser submetida à dor contínua de uma relação tóxica.

Sair desse ciclo é um ato de coragem — e também de amor-próprio.”

Canais de atendimento

A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 presta escuta acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgão competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento.

O serviço também fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso: Casa da Mulher Brasileira, Centros de Referências, Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), Defensorias Públicas, Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros.

A ligação é gratuita, e o serviço funciona 24h, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.

O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.

Referências Bibliográficas

Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.

É também autor dos livros: Inveja – O Inimigo Oculto; O Que Era Doce Virou Amargo!!! (Volumes 1, 2 e 3); A Magia da Beleza Feminina; A Paixão e Seus Encantos; e What You Don't Know About COVID-19: The Mortal Virus.