Agora toma, Jair, que este filho é seu

Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Agora toma, Jair, que este filho é seu

 AFP/Arquivos
Enterro de vítima da covid-19 em Manaus, Brasil, em 5 de janeiro de 2021 Foto: AFP/Arquivos

Para a surpresa de absolutamente ninguém com mais de dois neurônios ativos (sim; não adianta o Tico funcionar e o Teco, não), estamos assistindo a uma explosão nos casos de Covid-19 e, consequentemente, ao colapso no sistema de saúde de várias cidades, e o aumento no número diário de mortes.

Os pais não devem receber toda a culpa por um filho desajustado. Ou filhos. Exemplos podem – e devem – ser seguidos. Mas podem, também, ser rejeitados. É o tal do livre arbítrio. Não são poucos os casos de pais alcoólatras e filhos abstêmios. Uma vez adulto, não há por que se transferir as responsabilidades.

Se não é culpa exclusiva de Jair Bolsonaro, o negacionista maníaco aboletado na presidência da República, é também – e muita! – sua, a responsabilidade pelo caos em que nos encontramos. Afinal, popular e influente (dentre seus milhões de devotos cegos) como é, levou milhões ao encontro do novo coronavírus.

Desde sempre, e não é novidade, o psicopata desdenhou da “gripezinha”. Desde sempre, fez pouco caso das vítimas. “E daí”? Desde sempre, promoveu e incentivou aglomerações. “Tem de enfrentar o vírus de peito aberto”. Desde sempre, ou melhor, desde abril de 2020, no mínimo, garante que “tá indo embora o vírus”.

Pois é. Eis aí o resultado. Milhões de brasileiros não quiseram ser “maricas”. Milhões de brasileiros acreditaram em: banho de sol, tratamento precoce, três pulinhos e reza brava. Milhões não usaram – e não usam – máscaras, “o último tabu a cair”. Milhões festejaram o natal e ano novo sem medo de ser feliz. Erraram feio.

Mas o pior, meus caros e caras, é que o devoto da cloroquina não para. E sua seita fanática, também não. Apesar de todas as evidências científicas e de todos os governos responsáveis do planeta desacreditarem fórmulas milagrosas, e estarem correndo feito loucos atrás de vacinas, o curandeirismo continua em alta no governo federal.

Enquanto morre-se por falta de leito hospitalar e oxigênio em Manaus, ministro da Saúde(?) e presidente aloprados desembarcam na capital do Amazonas trazendo… cloroquina! Trazendo… Ivermectina! Trazendo, como solução para algo tão complexo e trágico, o milagroso “tratamento precoce” made in Bolsolândia.

Muitos repetem: “Ricardo, por que essa sua obsessão por Bolsonaro? Por que não escreve sobre outro assunto”? Ora, que outro assunto, neste momento tão triste e de tanta desesperança, pode ser mais importante do que tentar – trazendo verdades e a realidade dos fatos – combater estes dois sacripantas duma figa?