Marisa Alija, de 46 anos, caminha sem restrições pelos corredores de alguns clubes importantes no cenário nacional. Ela tem portas abertas não somente pelos seus conhecimentos como advogada, sua área de atuação inicial, mas também como empresária. Não à toa, conduziu negociações de destaque recentemente, como a polêmica volta do atacante Robinho ao Santos, em 2020, na qual atuou como agente, e o retorno de Hulk ao futebol brasileiro para defender o Atlético-MG, essa como advogada.

Alguns dirigentes homens e colegas do meio dizem que ela se assemelha a “generais”. “Escuto isso bastante, e o bom é que falam na minha frente. Mas não escuto de forma pejorativa. Eu sou assim mesmo. Sou educada, mas também sou rígida. Estou ali para representar o jogador”, disse Marisa.

Perfil que foi sendo construído ao longo dos anos. “No início, tive certa dificuldade. É um mercado fechado. Tem também a questão de ser mulher. Mas acabei me sobressaindo por buscar o conhecimento. A partir do momento que se sabe o que se está falando, você é mais respeitada. No começo, era mais fechada, mais tímida, e aprendi a me impor. Para isso, fui fazer mestrado e doutorado”.

Essa caminhada teve início no Canindé, em 2003, em parceria com a Portuguesa. Depois, ela passou pelo extinto Clube dos 13, que tinha como principal finalidade cuidar dos direitos de transmissão dos jogos do futebol nacional. Assim, foi ganhando experiência, de modo a se tornar mais conhecida no mercado.

Sua carreira decolou mesmo em 2007. À época, Marisa teve um recurso deferido no CAS (Corte Arbitral do Esporte, na sigla em inglês), derrubando determinação da Fifa. O Lyon, da França, cobrava dívida do Corinthians pelo atacante Nilmar e ela conseguiu postergar a condenação, feito até então inédito.

Dali em diante, Marisa passou a defender figuras de renome como Robinho, Bebeto, Alex Silva, Marlos, Edcarlos e Zé Roberto. Ela ampliou horizontes e se juntou ao time dos que atuam no gerenciamento de carreira e também como empresária, com uma carteira de pouco mais de 25 clientes, com atletas de destaque e promessas, principalmente do Santos, clube com quem possui maior proximidade. É dela, por exemplo, o trabalho com a nova joia da Vila Belmiro, o atacante Angelo Gabriel, de apenas 16 anos.

“Numa negociação, a última coisa que se fala é o porcentual e a comissão que ganho, ao contrário do que se acha. Claro que vou ter minha comissão, de normalmente 10%, mas isso é só no fim do negócio”, explicou.

A postura rígida em que toca os negócios fez com que Marisa divida opiniões no mercado. Empresários, dirigentes e assessores ouvidos pelo Estadão reconhecem o amplo conhecimento da advogada. Porém, enquanto alguns elogiam sua carga e condução à frente dos negócios, outros entendem algumas de suas atitudes como “excesso” e que seu lado “truculento” inviabiliza transações.

É o que diz um dos personagens da negociação que trouxe Hulk para a Cidade do Galo, em Minas Gerais, o centro de treinamentos do Atlético-MG. Segundo ele, as conversas do atacante com o clube tiveram início em meados do ano passado, quando o então diretor de futebol Alexandre Mattos entrou em contato com Nuno Ferreira, empresário do atleta, perguntando sobre as condições e se tinha interesse em voltar para o Brasil.

Após sinal verde, Marisa ficou encarregada de representá-lo nos meandros do acordo. Segundo esse mesmo personagem, que pediu para não ter o nome revelado, ela, no entanto, excedeu em alguns pontos, justamente por sua “truculência”, criando desgastes.

No final, as arestas foram aparadas e o acordo, selado. O jogador, que teve como último clube o Shangai SIPG, da China, assinou um contrato milionário com o Atlético-MG válido por duas temporadas. Antes de fechar com a equipe mineira, Hulk recebeu propostas de times da Turquia e de Portugal, além de ter sido sondado pelo Palmeiras.