A Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa) informou, hoje (8), que abriu processo regulatório para tratar dos procedimentos realizados pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) para “o correto e eficaz” restabelecimento do abastecimento de água na região metropolitana.

Depois da reclamação de moradores de 11 bairros da cidade do Rio de Janeiro sobre o recebimento de água com cheiro forte e coloração turva, a Cedae disse ontem à noite (7) que as alterações não oferecem risco à população. Em nota, a companhia informou que após análises finalizadas nesta terça-feira (7), técnicos da companhia detectaram a presença da substância geosmina em amostras de água. Mais de um milhão de pessoas vivem nos bairros afetados.

A agência reguladora pediu que a Cedae preste esclarecimentos em cinco dias sobre as inspeções feitas nos bairros de Paciência, Campo Grande, Santa Cruz, Olaria, Braz de Pina e Ramos, acerca das reclamações dos usuários quanto à qualidade da água distribuída.

A Cedae também precisa apresentar o resultado das análises microbiológicas coletadas por técnicos de laboratório especializado e do Laboratório Municipal de Saúde Pública (Lasp) e o resultado do monitoramento feito em 100 pontos de água fornecida a unidades de saúde e de educação da prefeitura do Rio de Janeiro em bebedouros, cozinhas e banheiros, bem como nos reservatórios de água de imóveis públicos.

A Agenersa também pediu à Cedae que informe sobre o certificado das inspeções realizadas pelos técnicos sobre a higienização dos reservatórios e cisternas em geral, bem como a periodicidade do devido monitoramento além do prazo para restabelecer o abastecimento sem as alterações encontradas.

“Essas informações embasarão decisão do Conselho Diretor no processo, pois a Agenersa determina, por meio de instrução normativa, que o fornecimento de água da Cedae atenda aos padrões definidos pelo Decreto Federal 5.440/2005 e Portaria do Ministério da Saúde 2914/2011, que regem o meio ambiente e a vigilância sanitária”, disse a agência por meio de nota.

“Caso a companhia não se manifeste ou seja comprovada falha nos seus procedimentos que comprometa a qualidade da água fornecida e coloque em risco a saúde dos usuários, a Cedae pode ser penalizada”, acrescentou a Agenersa.

Inspeção

Diante das reclamações, a Subsecretaria de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses do Rio de Janeiro, responsável pelo monitoramento da qualidade da água de abastecimento distribuída pela Cedae, informou que inspecionou ontem (7) 12 pontos nos bairros de Paciência, Campo Grande e Santa Cruz, na zona oeste da cidade, e em Olaria, Brás de Pina e Ramos, na zona norte. Os técnicos coletaram amostras para a análise microbiológica no Laboratório Municipal de Saúde Pública (Lasp).

Esgotamento sanitário

A especialista em saneamento ambiental e professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Iene Christie Figueiredo, destacou que a água potável tem um padrão de qualidade definido pelo Ministério da Saúde, que qualquer concessionária precisa garantir.

“As análises de cor e turbidez são rápidas. Existem parâmetros mais simples que poderiam sinalizar problema na qualidade da água. A Cedae deveria ter observado isso. Quanto à geosmina em si é uma análise que demora, mas se a cor está ruim, se o cheiro está ruim e se a turbidez está ruim, isso é facilmente detectável. Talvez ela tenha pecado nesse sentido”, disse.

Outro problema ressaltado pela professora é a má gestão do esgotamento sanitário nas comunidades no entorno dos mananciais usados para o abastecimento de água. Segundo Iene, a presença da geosmina liberada por organismos similares às algas significa que há problema no manancial.

Apesar de a época do ano, com calor e luminosidade, ser favorável à proliferação das algas, um importante fator que induz a proliferação é o esgoto que polui os mananciais. “A solução depende de uma ação de gestão muito mais ampla, que é, de fato, implementar a Política Nacional de Saneamento”.

Geosmina

A geosmina é uma substância orgânica produzida por algas e que, segundo a Cedae, não representa qualquer risco à saúde dos consumidores. De acordo com a companhia, “a substância não oferece riscos à saúde, mas altera o gosto e o cheiro da água. O fenômeno natural e raro de aumento de algas em mananciais, em função de variações de temperatura, luminosidade e índice pluviométrico, causa o aumento da presença deste composto orgânico, levando a água a apresentar gosto e cheiro de terra”.

A fotógrafa Angélica Freitas, moradora de Vila Valqueire, na zona norte, disse que a água na sua casa está com cheiro e gosto forte de terra desde sexta-feira (3). “Estamos consumindo água mineral. Os vizinhos também reclamam”, disse. “É revoltante. É um péssimo serviço. Tenho um purificador de água, mas mesmo assim a água sai com gosto de terra”.