Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários

Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários

"SemAnúncio vem após corte de verbas dos EUA sob Donald Trump, que respondiam por mais de 40% das contribuições à agência das Nações Unidas. Outros países também cortaram repasses.O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou nesta segunda-feira (16/06) que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo.

Após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos Estados Unidos, a agência realizou uma revisão de suas atividades, despesas, pessoal e estruturas, e decidiu reduzir seu quadro de funcionários – que, em junho de 2024, era de pouco menos de 20 mil, entre temporários e contratos fixos.

O Acnur está entre as várias agências de ajuda humanitária da ONU e de outras entidades que foram gravemente afetadas pelos cortes promovidos pelo governo de Donald Trump nos EUA. O republicano também desmantelou a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).

A política "America First" adotada por Trump já atingiu entidades em todo o mundo, incluindo o Brasil, em áreas como saúde, assistência a imigrantes e meio ambiente.

Os Estados Unidos – que eram de longe o maior doador da Acnur – reduziram sua ajuda externa após uma revisão radical de gastos ordenada por Trump. Ao mesmo tempo, outros países também decidiram diminuir os gastos com ajuda humanitária.

Perda brutal de recursos

Washington era responsável por mais de 40% das contribuições recebidas pelo Acnur. Esse valor, segundo afirmou o chefe da agência, Filippo Grandi, ao Conselho de Segurança da ONU em abril, era de 2 bilhões de dólares por ano (quase R$ 11 bilhões).

"Diante das difíceis realidades financeiras, o Acnur se vê obrigado a reduzir a escala geral de suas operações", afirmou Grandi em nota divulgada nesta segunda-feira.

Ele disse que a agência se concentrará "nas atividades com maior impacto para os refugiados", ao mesmo tempo em que trabalha para tornar sua sede em Genebra e seus escritórios regionais mais eficientes.

O Acnur afirmou ter sido obrigado a fechar ou reduzir o tamanho de seus escritórios em todo o mundo e implementar um corte de quase 50% em cargos de chefia em Genebra e nas sedes regionais.

"No total, aproximadamente 3,5 mil cargos serão descontinuados", diz o comunicado. Soma-se a isso o fato de que centenas de trabalhadores temporários tiveram que deixar a organização devido à escassez de recursos. "No geral, o Acnur estima uma redução global nos custos com pessoal de cerca de 30%."

A agência afirmou que já foram afetados pelos cortes programas que vão desde assistência financeira a famílias vulneráveis, saúde, educação e água e saneamento.

O Acnur afirmou estar trabalhando com outras organizações e países que acolhem refugiados para tentar mitigar o impacto sobre essas pessoas.

Número de refugiados quase dobrou desde a última década

A agência estima que encerrará 2025 com o financiamento aproximadamente no mesmo nível de uma década atrás – apesar do número de pessoas forçadas a fugir de suas casas ter quase dobrado no mesmo período, para mais de 122 milhões.

"Mesmo enfrentando cortes dolorosos e perdendo tantos colegas dedicados, nosso compromisso com os refugiados permanece inabalável", disse Grandi.

"Embora os recursos sejam mais escassos e nossa capacidade de entrega seja reduzida, continuaremos trabalhando arduamente para responder a emergências, proteger os direitos dos refugiados e buscar soluções, incluindo o retorno para casa, como quase dois milhões de sírios fizeram desde dezembro."

A guerra civil na Síria eclodiu em 2011 e levou centenas de milhares de refugiados a buscar abrigo na Europa. O ditador Bashar al-Assad foi deposto no final de 2024.

Atualmente, o Sudão é o maior país do mundo em deslocamentos forçados, com 14,3 milhões de refugiados e deslocados internos, ultrapassando a Síria (13,5 milhões), o Afeganistão (10,3 milhões) e Ucrânia (8,8 milhões).

No final de 2024, uma em cada 67 pessoas em todo o mundo foi deslocada à força, informou nesta quinta a agência sediada em Genebra, na Suíça.

rc/ra (AFP, Reuters)