O Zeist Museu de Arte Contemporânea da África (Zeitz-MOCAA) da Cidade do Cabo reúne obras de artistas do continente e de suas inúmeras diásporas, sob o impulso da camaronesa Koyo Kouoh.

“Para mim, a África é uma ideia, uma história que vai além das fronteiras”, afirma a elegante curadora de arte, de 56 anos.

“Costumo dizer aos nossos visitantes americanos que seu país também é um país africano. Eles não gostam de ouvir isso”, diz ela, com uma pitada de provocação, mas sem perder a seriedade.

O mesmo acontece, acrescenta Koyo, com países como Brasil, Cuba, ou Haiti.

“Um país se constitui pelo acúmulo, ou pela combinação, de expressões e influências culturais. E a influência africana nos Estados Unidos e nesses países é inegável”, comenta.

“É por isso que gosto de falar de geografias negras, mais do que de diásporas africanas. Os lugares onde a cultura negra, os corpos negros, os negros influenciaram a sociedade”, explica.

Há quatro anos à frente desse museu, Kouoh – que cresceu entre a cidade camaronesa de Douala e a cidade suíça de Zurique – também criou um centro de arte em Dakar.

Ela remodelou e repensou o conteúdo do MOCAA na África do Sul, o primeiro museu de arte africano de envergadura, com o qual grandes instituições nova-iorquinas e europeias querem colaborar.

Neste antigo silo de trigo, gráfico e requintado, que lembra uma colmeia com múltiplos alvéolos, herdou uma instituição “deteriorada”. A urgência era “dar uma estrutura programática” para forjar uma identidade, uma particularidade, explica.

– África estigmatizada –

O pan-africanismo “é uma evidência e uma necessidade. O relato do continente foi amplamente definido por outros e continua a ser hoje”, estima.

Décadas depois do fim do colonialismo, durante as quais “surgiram muitas vozes que ganharam autoridade, os estigmas na África continuam sendo muito ativos”, destaca.

A exposição “Seekers, Seers, Soothsayers”, atualmente em exibição, explora, por meio de projeções de fotos ou de vídeos em paredes ou instalações têxteis, uma esfera espiritual e até sobrenatural.

“É absolutamente necessário trazer mais histórias, mas não como uma forma de correção. Não tenho nenhum interesse em corrigir. Não possuo, nem internalizo a história errônea. Mas temos que nos apropriar do espaço”, avalia.

Para fazer emergir histórias do continente, os curadores africanos tendiam a montar exposições agrupadas. “Queríamos contar histórias a várias vozes”, afirma.

Hoje, no entanto, ela prefere privilegiar espaços dedicados a uma única figura artística.

“É um formato de grande riqueza. Quando você concebe uma exposição coletiva, você espera criar uma sinfonia, mas, na maioria das vezes, você cria uma cacofonia”, observa.

Já em um exposição individual “obtém-se uma verdadeira sinfonia de experiências e universos”.

O museu é, hoje, reconhecido mundialmente por seu trabalho pan-africano.

“É o único que tem essa ambição”, insiste Koyo Kouoh, no elevador panorâmico do imponente edifício industrial.

Agora, ela quer se concentrar em três prioridades: divulgar talentos emergentes, junto com artistas experientes; oferecer uma plataforma de envergadura para mulheres artistas e celebrar “práticas que não receberam o reconhecimento que merecem”.

“Somos o único museu que expôs o trabalho de tantas mulheres artistas africanas”, destaca, defendendo-se de qualquer tipo de ativismo, mas afirmando sua determinação de “promovê-las com força”.

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