A África do Sul lançou neste sábado (22) um apelo a favor do multilateralismo ao inaugurar a cúpula do G20 de Joanesburgo boicotada por Donald Trump, na qual Ucrânia, clima e desigualdade surgem como protagonistas.
“O G20 ressalta o valor da relevância do multilateralismo”, disse o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, em seu discurso de abertura.
“Os desafios que enfrentamos só podem ser resolvidos por meio da cooperação, da colaboração e das alianças”, afirmou.
Embora o mandatário americano tenha boicotado o encontro, organizado pela primeira vez na África, seu plano para pôr fim à guerra na Ucrânia já orienta os debates em Joanesburgo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que os dirigentes europeus presentes na África do Sul se reunirão no sábado à margem do G20 para tratar da proposta.
Na parte da tarde, estão previstas conversas sobre o clima, que podem coincidir com as negociações de última hora na COP30 em Belém, que ainda aguarda a aprovação de um texto que não menciona especificamente a eliminação dos combustíveis fósseis.
O G20 reúne 19 países, a União Europeia e a União Africana. No total, seus participantes representam 85% do PIB mundial e cerca de dois terços da população.
A cúpula de Joanesburgo se anunciava simbólica. É a primeira organizada no continente e representa o fim de um ciclo de presidências do G20 de países do “Sul Global”: Indonésia (2022), Índia (2023) e Brasil (2024).
Mas o governo sul-africano tornou-se alvo de Donald Trump, que boicota a cúpula sob o pretexto de que as prioridades de Pretória são contrárias à política americana.
Não é a única ausência de destaque. O argentino Javier Milei, alinhado diplomaticamente com Trump, também não comparecerá, assim como a mexicana Claudia Sheinbaum, que não costuma participar deste tipo de encontro.
O mandatário chinês, Xi Jinping, também não estará presente e enviará seu primeiro-ministro, Li Qiang, nem o russo Vladimir Putin, que não participa destas cúpulas desde o início da invasão da Ucrânia.
Em contraste, embora a COP30 ainda esteja em andamento em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou na sexta-feira à África do Sul, um aliado próximo no grupo do Brics.
– Painel sobre a desigualdade econômica –
Um dos principais objetivos da África do Sul no G20 é a criação de um painel internacional sobre desigualdades econômicas, inspirado no IPCC promovido pela ONU para a mudança climática.
O alívio da dívida, os minerais da transição energética (muito abundantes na África) e a inteligência artificial também estão na agenda.
Há dúvidas sobre se Ramaphosa conseguirá que seja aprovada uma declaração conjunta dos líderes participantes, como costuma ocorrer nas cúpulas.
Washington se opõe completamente à divulgação de uma resolução final em nome do G20 devido à ausência americana nas reuniões.
A adoção de uma declaração pelos líderes presentes seria “um sinal importante de que o multilateralismo pode alcançar resultados”, disse o líder sul-africano em seu discurso inaugural.
Uma fonte diplomática e outra do governo sul-africano disseram à AFP que há um rascunho pronto, porém sem seu título habitual: “Declaração de dirigentes do G20”.
A presidência sul-africana se apresentou nesse período como uma ardente defensora do multilateralismo, que tem no G20 um de seus principais instrumentos.
Por outro lado, o segundo mandato de Trump se caracteriza por sua ofensiva protecionista e pela retirada de múltiplos organismos e fóruns internacionais.
Ainda assim, os Estados Unidos assumirão de forma rotativa a presidência do G20 após a África do Sul. A administração Trump anunciou que quer restringir a cúpula a questões de cooperação econômica.
soe-fal/mba/nr/dbh/hgs/lm/yr