Governo sul-africano se diz vítima de ataques do presidente dos EUA, após americano congelar ajuda ao país, que acusa de querer confiscar terras de minoria branca e prejudicar Israel.A África do Sul denunciou neste sábado (08/02) uma "campanha de desinformação" depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, emitiu uma ordem congelando indefinidamente a ajuda ao país por causa de uma lei que, segundo ele, permite que terras sejam confiscadas de fazendeiros brancos.
"Estamos preocupados com o que parece ser uma campanha de desinformação e propaganda com o objetivo de deturpar nossa grande nação", disse o governo sul-africano.
A África do Sul tem se defendido nos últimos dias dos ataques de Trump, que acusa o país de confiscar terras sem indenização e realizar violações de direitos humanos, após a aprovação, em 23 de janeiro, de uma lei que facilitará a expropriação de terras por interesse público.
"Enquanto a África do Sul continuar a se envolver nessas práticas injustas e imorais que prejudicam nossa nação, os Estados Unidos não fornecerão ajuda ou assistência à África do Sul", diz a ordem executiva assinada pelo presidente dos EUA nesta sexta-feira.
A ordem também inclui a promoção do reassentamento nos EUA de "refugiados africâneres", a minoria branca da África do Sul descendente de colonos holandeses, que estejam "fugindo da discriminação racial promovida" por seu governo.
Trump também denunciou que "a África do Sul adotou posições agressivas contra os Estados Unidos e seus aliados, inclusive acusando Israel de genocídio" perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).
"Medida não reconhece história de apartheid"
Para o governo sul-africano, essa medida "não reconhece a profunda e dolorosa história de colonialismo e apartheid" pela qual seu país passou, em referência ao regime de segregação racial que governou a África do Sul entre 1948 e 1994.
A propriedade da terra é uma questão polêmica na África do Sul, com a maior parte das terras agrícolas ainda pertencendo a pessoas brancas, três décadas após o fim do apartheid. Esse é o legado de uma política de expropriação de terras da população negra que perdurou durante o apartheid e o período colonial anterior.
De acordo com um relatório do governo de 2017, mais de 72% das terras agrícolas privadas do país pertencem a pessoas brancas, representando menos de 8% de todos os sul-africanos
É decepcionante observar que tais narrativas parecem ter sido favorecidas entre os tomadores de decisão nos Estados Unidos da América", disse Pretória.
"É irônico que a ordem executiva preveja o status de refugiado nos EUA para um grupo na África do Sul que permanece entre os mais privilegiados economicamente, enquanto pessoas vulneráveis de outras partes do mundo nos EUA estão sendo deportadas e não recebem asilo, apesar das dificuldades reais."
O gabinete do presidente sul-africano negou qualquer intenção de "confiscar terras".
A porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, disse no sábado que "os fazendeiros sul-africanos perseguidos e outras vítimas inocentes que estão sendo alvos apenas com base em sua raça e que optam por se reassentar nos Estados Unidos serão bem-vindos".
"Os Estados Unidos também defenderão os direitos e interesses dos descendentes remanescentes de colonos ameaçados de expropriação sem indenização e outros abusos intoleráveis", disse ela no X.
Suspensão por tempo indefinido
Embora Trump já tenha suspendido a ajuda humanitária em todo o mundo por um período de 90 dias, a sanção contra a África do Sul é indefinida.
Entre as instituições que Trump está ordenando que cortem a ajuda à África do Sul está a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), a qual está em processo de desmantelamento por ordem do braço direito do republicano e magnata sul-africano Elon Musk.
A retaliação de Trump se soma à decisão do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, de suspender sua participação na reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20, a ser realizada no final deste mês na África do Sul.
md (EFE, AFP)