A Agence France-Presse (AFP), um ator-chave na informação global, e a empresa de inteligência artificial francesa Mistral anunciaram um acordo que permite ao chatbot dessa companhia utilizar o material de notícias da agência para responder às consultas de seus usuários.
Nem o montante nem a duração deste contrato “plurianual” foram revelados.
Este é o primeiro acordo desse tipo para a AFP, assim como para a Mistral AI, concorrente europeia de gigantes americanas como a OpenAI, criadora da ferramenta ChatGPT.
Esse tipo de acordo é relativamente raro no mundo, embora o panorama tenha começado a mudar.
A agência de notícias americana Associated Press (AP) e Google anunciaram, na quarta-feira, um acordo para que a primeira forneça conteúdos à Gemini, a IA generativa do gigante americano.
A maioria dos veículos de comunicação negociou até agora com a OpenAI, sediada na Califórnia, que assinou contratos com o jornal econômico britânico Financial Times, o jornal francês Le Monde e o grupo alemão Springer, editor do jornal Bild.
“Este é o primeiro acordo entre dois atores com ambições globais, com alcance global para a AFP, mas com raízes europeias firmemente estabelecidas”, disse o presidente da agência, Fabrice Fries.
O acordo proporcionará à agência “um novo fluxo de receita”, disse ele em entrevista a jornalistas da AFP.
Para a Mistral, “a AFP fornece uma fonte verificada, jornalística, o que consideramos muito importante”, reiterou o diretor da startup, Arthur Mensch.
A partir desta quinta-feira (16), as reportagens da AFP em seis idiomas (francês, inglês, espanhol, árabe, alemão e português) podem ser acessadas pelo chatbot da Mistral, o “Le Chat”.
Seu funcionamento é semelhante ao do ChatGPT, que popularizou essas ferramentas entre o grande público: o usuário faz uma pergunta e o chatbot responde em poucos segundos.
Segundo este acordo, quando a pergunta for sobre atualidades, o Le Chat formulará suas respostas utilizando as reportagens da AFP, ou seja, informações enviadas em formato de texto pela agência a seus clientes assinantes (veículos da imprensa, instituições, empresas…).
Uma fase inicial de testes será realizada, apenas para uma parcela dos usuários.
O Le Chat pode acessar todos os arquivos de texto da agência desde 1983, mas não suas fotos, vídeos ou infográficos.
No total, isso representa 38 milhões de artigos, produzidos a um ritmo de 2.300 por dia, de acordo com Fries.
Esse uso é destinado, explicou, “a profissionais liberais, executivos de grandes empresas” que, por exemplo, devem “preparar memorandos” ou qualquer documento relacionado a acontecimentos da atualidade.
Muitas pessoas usam essas ferramentas de IA generativa para questões cotidianas, que esses programas geralmente respondem pegando informações disponíveis na Internet. Os dois usos “são complementares”, considerou Mensch.
Para perguntas “que exijam informações verificadas, a AFP fornecerá” o material base para as respostas. Mas, quando as perguntas são sobre “compras ou o clima, por exemplo, é mais provável que seja a Internet”, explicou ele.
“Antes, as pessoas buscavam informações digitando em uma caixa de pesquisa, mas agora chatbots como o Le Chat da Mistral oferecerão fontes” diretas, explicou à AFP Robert Vesoul, fundador da empresa de soluções de inteligência artificial Illuin Technology.
A assinatura deste acordo ocorre logo após o anúncio do grupo Meta (Facebook, Instagram) da suspensão de seu programa de verificação de fatos nos Estados Unidos.
A AFP está na vanguarda deste programa a nível mundial.
“Nossas discussões com a Mistral começaram há cerca de um ano, então não estão relacionadas à decisão da Meta”, afirmou Fries, que alegou a “estratégia de diversificação” das plataformas digitais para obter lucro em um momento de grave crise da mídia tradicional.
Ao contrário de outros acordos desse tipo, o conteúdo da AFP não será usado para treinar e melhorar os modelos computacionais da Mistral, disseram ambas as partes.
Esses conteúdos são “um módulo que se conecta ao nosso sistema e pode ser desconectado” quando o contrato expirar, explicou Mensch.
“Não é um pagamento único, como geralmente é o caso com acordos de treinamento de modelos, mas sim um programa de lucros recorrentes”, disse Fries.
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