Há 10 anos, quase ninguém tinha ouvido falar do glúten ou no que ele significava. Mas ultimamente ele se tornou o novo odiado e as dietas “glúten-free” estouraram por aí, conquistando adeptas de peso como Gwyneth Paltrow, Rachel Weisz e Victoria Beckham, que afirmaram ganhar mais energia e reduzir medidas depois da nova dieta. Afinal, glúten faz mal para você?

Mas o que é glúten, exatamente? É uma proteína encontrada nos grãos de trigo, cevada e centeio. A maioria de nós o amava sem nem mesmo o conhecer, porque o glúten é o responsável por dar um toque especial às nossas comidas favoritas: ele faz a massa da pizza ser macia, dá ao pão a textura esponjosa, e é usado para engrossar molhos e sopas.

Uma alimentação sem glúten tem base na ciência, e realmente ajuda um problema de saúde genuíno. Para pessoas com uma disfunção digestiva crônica chamada de doença celíaca, o glúten é um mal real: o corpo deles considera até uma migalha de pão como um invasor e cria uma resposta imune, diz Alessio Fasano, diretor médico do Centro de Pesquisa Celíaca da Universidade de Maryland, em Baltimore, nos EUA.

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O problema é que essa reação imune danifica o intestino delgado, que causa um distúrbio gastrointestinal e uma deficiência nutricional. Se não tratada, essa condição pode levar ao câncer intestinal, assim como complicações como infertilidade e osteoporose.

Especialistas uma vez pensaram que a doença celíaca era um distúrbio raro, baseados no fato de que ela afetava apenas uma em cada 10 mil pessoas. Mas com o aumento de testes e conhecimento, mais pessoas perceberam porque elas se sentiam mal depois de comer um pedaço de pão, e as companhias alimentícias descobriram um novo mercado. Segundo a Fenacelbra (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil), 2 milhões de brasileiros têm a doença.

Agora outro problema está emergindo, e os especialistas estão descobrindo uma sensibilidade ao glúten não-celíaca. A sensibilidade a essa proteína pode levar a sintomas similares aos da doença, como dores de estômago, diarreia e inchaço. Mas, diferentemente da celíaca, a sensibilidade não prejudica o intestino. Por anos, profissionais da saúde não acreditavam que ela existisse, mas especialistas estão começando a ter conhecimento de que ela pode afetar mais de 20 milhões de americanos, segundo Fasano.

O tipo saudável de glúten

Graças ao aumento dos diagnósticos de doença celíaca, e casos de sensibilidade ao glúten, “as dietas glúten-free têm emergido da obscuridade, e agora o pêndulo tem balançado completamente para outra direção”, diz Fasano. E com esse empurrão popular, as pessoas começaram a atrelar o esquivo do glúten como uma cura para diversas condições que não têm nada a ver com a celíaca, incluindo enxaquecas, fibromialgia, e a síndrome da fadiga crônica. Só porque alguns encontraram alívio, isso não quer dizer que uma dieta livre de glúten funciona em todos os casos.

E aí está a ideia de que uma dieta sem glúten é o passaporte para perder peso rapidamente. Mas, segundo Mark DeMeo, diretor de gastroenterologista e nutrição do Programa de Doença Celíaca para Adultos na Rush University Medical Center, em Chicago, nos Estados Unidos, “não há nada mágico em uma dieta sem glúten que está fazendo você perder peso.” O que está realmente trabalhando: um jantar glúten-free pode limitar seriamente o número de alimentos que você pode comer. Com poucas opções, você tem menos chances de comer demais, diz Shelley Case, médica e membro da Fundação da Doença Celíaca, nos EUA. Mas o tiro também pode sair pela culatra, porque uma dieta livre de glúten não significa que ela não têm gorduras ou calorias. “Sem o glúten para ligar os alimentos, os fabricantes geralmente usam mais gorduras e açúcares para fazê-los mais palatáveis”, diz Case.

Será que você deve parar de comer glúten?

Se você tem a doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, a resposta é simples: Sim, você tem que parar. Mas se você só quer dar uma acelerada na dieta, saiba disso: É uma dieta muito chata. Desistir do glúten pode soar tão básico quanto cortar o pão ou comer menos macarrão, mas isso é apenas uma parte do problema. Pelo fato de o glúten fazer os alimentos mais saborosos e espessos, ele é adicionado em tudo, do molho de salada ao molho de soja.

Além desse problema, você pode terminar com sérias deficiências nutricionais. “Uma dieta sem glúten não é necessariamente saudável, especialmente quando as pessoas param de consumir alimentos que são fontes ricas de vitaminas e grãos e os substituem por brownies sem glúten”, diz Case. Na verdade, estudos sugerem que aqueles que deixam o glúten de lado podem ter deficiência de importantes nutrientes como ferro, vitamina B e fibras.

Aqui entra a importância de uma refeição planejada, a qual pode explicar porque algumas pessoas se sentem tão bem sem o glúten: eles estão comendo alimentos reais ao invés de ultraprocessados. “Se você pula as besteiras sem glúten e foca nas frutas, vegetais, proteínas magras, laticínios, e grãos sem glúten como amaranto e quinoa, pode ser muito saudável”, diz Marlisa Brown, autora do livro Gluten-Free, Hassle Free.

Seis sinais da sensibilidade ao glúten

Cerca de dois milhões de brasileiros têm a doença celíaca, causada por intolerância ao glúten, mas muitos não sabem. Essa situação acontece porque o diagnóstico do problema é difícil: pode ser confundido com doenças do intestino ou relacionado à carência de nutrientes. Dito isso, se você pensa que tem um problema, não tire o glúten da sua dieta sem consultar um especialista. Se ficar sem glúten antes de fazer o teste, seus resultados podem aparecer negativos, mesmo que você tenha a doença.

A doença celíaca possui centenas de sintomas reconhecidos, de acordo com a Fenalcebra. Aqui estão alguns dos mais comuns:

> Diarreia crônica ou constipação;
> Excesso de gases e desconforto abdominal;
> Fadiga e dor de cabeça;
> Anemia;
> Perda de peso inexplicável;
> Nas mulheres, pode haver irregularidades menstruais.