As restrições aos direitos das mulheres continuam “bloqueando” a “reintegração” do Afeganistão na comunidade internacional, disse uma funcionária de alto escalão da ONU nesta sexta-feira (21), que acrescentou que a anunciada participação do governo talibã nas negociações de Doha não era uma “legitimação”.

Desde o seu retorno ao poder, as autoridades talibãs não foram oficialmente reconhecidas por nenhum país e aplicam uma interpretação ultra-rigorosa do islã, aumentando as medidas contra as liberdades das mulheres, uma política descrita como “apartheid de gênero” pela ONU.

Estas “restrições a mulheres e meninas”, especialmente na educação, “privam o país de capital humano vital”, “contribuem para uma fuga de cérebros que mina o futuro do Afeganistão” e “sendo profundamente impopulares, minam as pretensões de legitimidade das autoridades talibãs de fato”, disse Rosa Otunbayeva, chefe da missão das Nações Unidas no país (Manua) perante o Conselho de Segurança da ONU.

Também “continuam bloqueando soluções diplomáticas que poderiam levar à reintegração do Afeganistão na comunidade internacional”, acrescentou.

A comunidade internacional lançou um processo no ano passado em Doha para discutir o reforço do seu compromisso com o Afeganistão, sob os auspícios da ONU e na presença de representantes da sociedade civil afegã, incluindo mulheres.

As autoridades talibãs anunciaram que vão participar da terceira rodada de negociações, marcada para 30 de junho e 1º de julho no Catar, depois de terem sido excluídas da primeira, em maio de 2023, e de terem se recusado participar da segunda, em fevereiro, por não terem sido as únicas representantes do seu país.

Um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse esta semana que as discussões sobre as modalidades desta terceira reunião ainda estavam em curso.

Mas “para que este processo realmente comece, é essencial que as autoridades de fato participem em Doha”, disse Rosa Otunbayeva, alertando, no entanto, que “as expectativas importantes” que rodeiam o processo “não podem ser realisticamente atendidas em uma única reunião”.

“Nunca poderemos repetir o suficiente que este tipo de compromisso não é nem legitimação nem normalização”, insistiu também.

“Só um compromisso baseado em uma posição internacional comum, coordenada e baseada em princípios pode fornecer um forte incentivo para que as autoridades de fato adotem políticas que permitam a sua reintegração na comunidade internacional”, considerou.

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