O Afeganistão deu início nesta sexta-feira (21), à meia-noite local, a uma trégua que deve durar a princípio uma semana, até quando os Estados Unidos se preparam para assinar um acordo com os talibãs, no dia 29 de fevereiro, um acordo histórico que pode abrir caminho para o término da guerra mais longa na qual os EUA estiveram.

Essa trégua parcial e o acordo posterior marcarão um capítulo importante no conflito no Afeganistão, após mais de 18 anos de presença militar americana no país e em troca de garantias de segurança dos insurgentes.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e os talibãs publicaram comunicados afirmando que tinham entrado em consenso para assinar um acordo no próximo 29 de fevereiro, em Doha, após uma semana de trégua parcial.

“Depois que se começar a aplicar corretamente este compromisso (de redução da violência), espera-se a assinatura do acordo entre os Estados Unidos e os talibãs”, disse Pompeo, em um comunicado divulgado após sua visita à Arábia Saudita.

“As forças de segurança afegãs ficarão em estado de defesa ativa durante toda a semana”, alertou o presidente afegão, Ashraf Ghani, em um discurso transmitido na TV local, no qual ressaltou que a trégua começaria à meia-noite deste sábado.

O secretário-geral da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, afirmou que um acordo histórico entre Estados Unidos e os talibãs abriria caminho para uma paz duradoura no Afeganistão.

A Rússia também elogiou o acordo, considerando que se trata de um “evento importante” para a paz no Afeganistão, segundo o enviado russo, Zamir Kabulov.

Os EUA estão há mais de um ano negociando com os talibãs um acordo que preveja a retirada das tropas americanas em troca de garantias de segurança dos insurgentes e a permissão de que esses participem dos diálogos de paz com o poder executivo afegão.

Uma diminuição da violência poderia mostrar que os talibãs são capazes de controlar suas forças e que têm a intenção real de chegar a um acordo, que permitiria a retirada de metade dos 13 mil militares americanos que estão no Afeganistão.

Em comunicado, os talibãs afirmaram que ambas as partes “criariam uma situação adequada de segurança” antes que o acordo seja definido.

Uma fonte dos talibãs no Paquistão ressaltou que se no dia 29 o acordo for fechado, as negociações entre os insurgentes e o governo afegão, necessárias para alcançar um pacto mais amplo de paz, teriam início em 10 de março.

– Cessar-fogo –

Em Kandahar (sul), visto como um feudo do Talibã, um insurgente disse à AFP que havia recebido ordens para implementar um cessar-fogo.

Já o comandante talibã Hafiz Saeed Hedayat declarou, também em Kandahar, que recebeu apenas ordens para parar de atacar as principais cidades e rodovias.

“Isso pode significar que a violência continuará nos distritos”, admitiu Hedayat.

Os Estados Unidos e os talibãs estiveram perto de chegar a um acordo no passado, mas o presidente americano, Donald Trump, desistiu no final de setembro, porque os insurgentes não abandonaram a violência.

De qualquer forma, a trégua não está isenta de riscos, alertam analistas, prevendo que o estabelecimento da paz no Afeganistão será extremamente delicado e que um pacto de paz pode desmoronar a qualquer momento.

Alguns até advertiram que os dois lados podem tirar proveito da trégua para reconfigurar forças para futuros confrontos.