Advogado de Braga Netto começa a apresentar defesa; acompanhe

Ex-presidente e mais sete réus são acusados de arquitetarem plano golpista para invalidar eleições e manter bolsonaristas no poder; defesas continuam a apresentar as sustentações

Julgamentos da Ação Penal 2668 - Núcleo 1 (Manhã). Foto: Gustavo Moreno/STF
Julgamentos da Ação Penal 2668 - Núcleo 1 (Manhã). Foto: Gustavo Moreno/STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) retomou nesta quarta-feira, 3, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus do inquérito que investiga o plano de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. Nesta sessão, as defesas devem continuar a apresentar os argumentos para evitar a condenação dos acusados. 

Bolsonaro é acusado de comandar as articulações para o plano golpista com seus aliados quando ainda estava no poder. Também são réus no chamado “núcleo 1” do processo os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. 

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Os trabalhos desta quarta-feira começaram com a sustentação oral dos advogados de Augusto Heleno. Neste momento, a defesa de Jair Bolsonaro está falando. Na sequência, os advogados de Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto também irão se pronunciar.

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Defesa de Augusto Heleno

Na primeira sustentação do dia, o advogado Matheus Mayer Milanez apresentou 107 slides para refutar a denúncia da PGR contra o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Na defesa, ele criticou o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, e o acusou de colher provas em depoimento de testemunhas. Milanez ainda acusou Moraes de coagir testemunhas durante depoimento no decorrer do inquérito.

O advogado de Heleno ainda apontou fragilidade nas provas da PGR  e disse que o ex-chefe do GSI estava afastado de Bolsonaro no período em que a denúncia aponta a organização golpista. Matheus ressaltou ainda o general ficou em silêncio em uma das lives em que Jair Bolsonaro atacou o sistema eleitoral e usou um escrito com defesa da vacina para a Covid-19 para comprovar o afastamento entre o militar e o ex-presidente.

“Núcleo 1” da trama golpista

Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro foi o líder da organização criminosa e participou ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse de Lula. O ex-presidente ainda é acusado de editar uma minuta golpista e pressionar chefes das Forças Armadas a aderirem ao plano. Ele recuou da ideia após a recusa dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica. 

Além de Bolsonaro, outros sete aliados são réus no processo relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. São eles: 

  • Alexandre Ramagem, deputado federal (PL-SP)
  • Almir Garnier Santos, almirante e ex-comandante da Marinha
  • Anderson Torres, delegado do PF e ex-ministro da Justiça
  • Augusto Heleno, general e ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional)
  • Jair Bolsonaro, capitão e ex-presidente da República
  • Mauro Cid, tenente-coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator
  • Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa
  • Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Casa Civil

O processo é analisado pela Primeira Turma da Corte, que conta com cinco ministros: Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino. O julgamento deve durar até dia 12 de setembro.

Os votos dos ministros devem ficar apenas para a segunda semana de julgamento. A expectativa nos bastidores do STF é pela condenação de Bolsonaro, a dúvida está no placar unânime ou se haverá voto contra de um dos ministros. A incógnita está no voto de Luiz Fux, que já deu indícios de que poderá divergir do voto do relator.

A denúncia contra Bolsonaro 

Bolsonaro se tornou réu em março deste ano após a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar o ex-presidente por participação no plano golpista após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. As investigações da Polícia Federal começaram em agosto de 2023 e avançaram após a delação de Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto.

Para a PGR, Bolsonaro foi o líder da organização criminosa e participou ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse de Lula. A denúncia, oferecida em fevereiro deste ano, narra a trajetória golpista desde o período pré-eleitoral, com a disseminação de notícias falsas, até os ataques de 8 de janeiro contra os Três Poderes. 

Uma das provas pontuadas pelo procurador-Geral da República, Paulo Gonet, é o compartilhamento de notícias falsas nas redes sociais e declarações do ex-presidente contra o sistema eleitoral brasileiro. Para ele, Bolsonaro tentou descredibilizar a confiabilidade das urnas eletrônicas e o processo eleitoral para legitimar uma ruptura golpista. 

A denúncia aponta a gravação de uma reunião ministerial, realizada no dia 5 de julho de 2022, em que Bolsonaro cobra de seus ministros a utilização da estrutura do Estado para reforçar a desconfiança sobre o processo eleitoral. A acusação reforça o uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que realizou blitzes no dia do segundo turno das eleições de 2022 em áreas em que Lula obteve maioria dos votos para impedir que os eleitores pudessem votar. 

Bolsonaro ainda é acusado de editar e aprovar uma minuta golpista, que previa a declaração de Estado de Defesa no país, a revogação das eleições de 2022, além da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O documento também previa a formação de uma comissão provisória liderada por militares para investigar as supostas fraudes eleitorais e convocar novas eleições. 

O ex-presidente, de acordo com a PGR, apresentou o documento para os comandantes das Forças Armadas e chegou a pressioná-los para aderir ao plano golpista. O então líder da Marinha, o almirante Almir Garnier, deu aval à ideia, mas os comandantes do Exército Marco Antônio Freire Gomes e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, se negaram a aderir à proposta. A tese foi corroborada por Freire Gomes e Baptista Junior em depoimentos à Polícia Federal. 

Gonet ainda reforça que o ex-presidente da República tinha ciência e deu o aval para a execução do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de autoridades, como Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. O documento foi elaborado pelo general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, e impresso nas dependências do Palácio do Planalto. 

“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições”, afirmou a PGR na denúncia. 

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro nega todos os crimes atribuídos à ele.