O advogado Nelson Wilians, que atualmente representa as gêmeas Marina e Sofia, filhas de Gugu Liberato (1959-2019), na disputa pela herança bilionária do apresentador, lamentou a divulgação nesta quarta-feira, 31, pela revista Veja, de uma conversa acalorada entre as jovens e o irmão mais velho, João Augusto Liberato. Ambas defendem a união estável de Rose Miriam di Matteo e Gugu, enquanto o primogênito discorda.

O jornalista Valmir Moratelli teve acesso à prints da transcrição de uma reunião realizada em setembro de 2021, entre Marina, Sofia, João Augusto e alguns advogados da família. Os irmãos explicavam seus pontos de vista sobre o caso e ainda trouxeram à tona o nome do chef Thiago Salvático, que também afirma ter tido uma união estável com Gugu Liberato.

Em dezembro de 2022, o Tribunal de Justiça de São Paulo julgou a relação dos dois como “clandestina” e apenas “amizade”. Salvático recorre da decisão.

A transcrição de uma videoconferência – de 26 minutos e 50 segundos – entre os advogados e os filhos do apresentador expõe as calorosas divergências dos envolvidos no espólio a ser repartido.

Veja alguns trechos abaixo:

“Ela não foi uma barriga de aluguel”, afirma Marina. “É João, você acha que a nossa mãe foi uma barriga de aluguel?, questiona a jovem. “Mas ela concordou em fazer isso, essa foi a vida que ela quis”, responde João Augusto. “Tá bom, mas a minha mãe… O meu pai escolheu ela por alguma razão. Não escolheu qualquer pessoa”, rebate Marina.

Em seguida, Marina relata a briga entre o rapaz e a mãe. “Você acha que não quero ver a mamãe feliz? Você acha?”, pergunta ele. “Acho, você odeia ela”, responde a irmã.

“Que? Você acha que eu odeio a minha mãe? Eu nem consigo falar com ela… Você acha que eu consigo falar com ela? Eu terminei com a minha namorada, cê acha que eu quis falar com ela? Cê acha que eu vou falar com alguém que está me atacando? Sendo que eu tô querendo dar dinheiro pra ela”, argumenta João.

Marina volta a defender Rose: “Ela não está te atacando, ela só quer o seu melhor”, diz. “Não me sinto confortável em falar com alguém que está disputando na Justiça contra (mim) – antigamente por 65% do que a gente tinha…”, explica o rapaz.

“Eu quero fazer esse acordo, estou tentando fazer esse acordo há meses, há anos… Pra terminar essa porra desse negócio judicial… A gente quer fazer um acordo em que ela se sinta bem, é isso que a gente quer. Só que não vai ter união estável, porque não existiu união estável”, continuou o primogênito de Gugu.

Vergonha e temor

Também foram anexadas conversas entre os dois irmãos, nas quais Marina confessa que teria vergonha de ser reconhecida como filha de uma “barriga de aluguel” e teme dilapidação do patrimônio. “Que imagem ridícula”, definiu a jovem. Para ela, seria melhor se o dinheiro ficasse para Rose, do que para alguém de fora da família, como Thiago.

“Não quero o meu nome no Brasil inteiro sendo reconhecido como ‘a menina que nasceu de uma barriga de aluguel’ (que imagem ridícula). Nossa mãe nunca vai aceitar não ser reconhecida como união estável, então não vai ter acordo sem o reconhecimento para ela”, destacou Marina. “A coisa mais importante pra mamãe é ser reconhecida como união estável, não é o dinheiro”, emendou.

“Se a mamãe e a nossa família não tivessem entrado em processos contra a gente e exposto nossas vidas pro Brasil inteiro na mídia, a gente não teria que estar passando por isso”, garantiu João Augusto.

“Você não quer ser vista como menina que nasceu de barriga de aluguel e você acha que eu quero? Mas essa é a realidade que a gente teve… O papai nunca quis ter um casamento, nunca quis morar junto com ninguém, mas ele queria filhos e teve a gente. A mamãe e nossa família por parte de mãe precisam de dinheiro, Marina. Sem dinheiro ninguém tem nada. O papai sempre soube que a gente nunca deixaria a mamãe na mão em relação a dinheiro”, rebateu João.

Marina diz que a falta de uma união estável abre brecha para que terceiros reivindiquem a herança. “Se ela não for reconhecida outra pessoa, como Thiago Salvático, pode entrar em um processo contra a gente, e quem não iria querer tentar ganhar dinheiro, né?”, falou.

Nota oficial do advogado de Marina e Sofia

Diante da repercussão da matéria da Veja, o advogado Nelson Wilians se manifestou: “É lamentável que uma conversa parcial entre um advogado e seus clientes, mesmo que sejam ex-clientes, venha a público. Isso demonstra desespero de quem sabe que a Justiça está chegando e não será favorável a eles. E mais: demonstra ainda o acerto das gêmeas em trocar esses advogados, que em nada representavam os interesses delas”, afirmou, por meio de nota.

O advogado ainda diz que vai tratar “desse caso na esfera penal, no momento oportuno”. “Além da quebra de confidencialidade da conversa parcialmente divulgada com fins espúrios, foi frontalmente violado o direito à privacidade e intimidade das herdeiras, conforme prevê a Constituição”, ressalta.

Segundo ele, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP deveria apurar o vazamento e aplicar as sanções previstas no Código de Ética e Disciplina, caso fique comprovado o envolvimento de advogados.

Próxima audiência

No dia 22 de maio, aconteceu a primeira audiência para determinar se Rose Miriam di Matteo tem direito a parte da herança do patrimônio avaliado em R$ 1 bilhão.

As audiências que estavam marcadas para os dias 23 e 24 foram adiadas para 22 de junho. A decisão do juiz da 9ª Vara de Família e Sucessões do foro Central de São Paulo é para que todas as testemunhas possam ser ouvidas. Para o dia 23, estavam agendadas as testemunhas de Rose.

No testamento, assinado em 2011, o apresentador não reconheceu Rose Miriam como companheira em união estável e nomeou a irmã como responsável por cuidar de seu espólio (bens divididos entre os herdeiros). Nele, o comunicador deixou 75% do patrimônio aos três filhos e os 25% restantes para os cinco sobrinhos.

Se a Justiça reconhecer a união estável, Rose passa a ter direito ao espólio do comunicador – metade da herança. Os outros 50% serão transmitidos obrigatoriamente aos três filhos. O processo que tramita em segredo de justiça.