Ex-presidentes e políticos do Chile, de esquerda e de direita, assim como familiares e apoiadores, despedem-se nesta sexta-feira (9) do ex-presidente Sebastián Piñera, que morreu na terça-feira enquanto pilotava o seu helicóptero no sul do país.

Todo o gabinete do presidente de esquerda Gabriel Boric, assim como a viúva de Piñera, Cecilia Morel, junto com seus quatro filhos, chegaram à sede do antigo Congresso, no centro de Santiago, para uma cerimônia no último dos três dias de luto decretados pelo governo.

Durante a cerimônia haverá discursos dos ex-presidentes democrata-cristão Eduardo Frei (1994-2000) e da socialista Michelle Bachelet (2006-10; 2014-18). O ex-presidente socialista Ricardo Lagos (2000-2006) não comparecerá após ter se aposentado da vida pública há uma semana.

“Ainda não posso fazer muitas reflexões porque o impacto é muito forte (…) mas tem sido muito emocionante ver todas as pessoas de todos os lugares do Chile”, disse Cecilia Morel.

“Agradeço também ao Governo, ao Presidente Boric, que nos recebeu com muito carinho e organizou este funeral de Estado”, destacou.

As palavras de Morel surgiram em um momento em que líderes de direita criticaram a “oposição dura e injusta” que o agora presidente Boric e membros do seu governo encarnaram quando lideraram a oposição a Piñera durante a crise social de outubro de 2019, e depois na pandemia que atingiu a economia do país.

“Sua morte é muito chocante, ele ainda tinha todo o potencial para ser presidente novamente depois deste período que os chilenos estão testando com a esquerda”, disse à AFP Nancy Garrido, administradora de 45 anos, segurando uma foto com a imagem presidencial de Piñera, como milhares de outras pessoas que fizeram fila para o funeral público desde quarta-feira.

Piñera morreu na tarde de terça-feira de “asfixia por submersão” no Lago Ranco, onde o helicóptero caiu, disse a promotora regional de Los Ríos, Tatiana Esquivel, na cidade de Valdivia, 850 quilômetros ao sul de Santiago e a cerca de 70 quilômetros do local do acidente.

Piñera pilotava seu helicóptero com três pessoas, incluindo sua irmã, que saíram ilesas.

O empresário era, aos 74 anos, um dos homens mais ricos do Chile, reconhecido por ter chegado ao poder em 2010 como o primeiro político de direita eleito democraticamente após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

O presidente, que governou duas vezes (2010-2014 e 2018-2022), foi elogiado por apoiadores e rivais políticos pela sua capacidade de diálogo e compromisso com uma democracia liberal.

Mas também foram lembrados vários casos de conflito de interesses em que esteve envolvido. Sua fortuna, estimada em mais de 2,4 bilhões de dólares (11,9 bilhões de reais na cotação atual), está entre as maiores do Chile e da região.

A publicação dos Pandora Papers, sobre a venda da mineradora Dominga em 2010 por uma empresa de seus filhos, manchou ainda mais sua imagem em 2021.

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