UNIVERSAL João Paulo Leal: paixão pelo espaço o levou a comprar naves e foguetes (Crédito:Rodrigo Zaim)

O tempo livre e o isolamento fizeram com que muitas pessoas passassem horas de olho nas telas dos celulares e computadores. O problema é que a maioria da informação consumida online é um amontoado de distrações vazias, que não estimulam a criatividade ou o aprendizado. Boa parte dos adultos, porém, tem usado as horas de lazer para se dedicar a jogos físicos de alta complexidade, como os quebra-cabeças de milhares de peças, o modelismo e até os blocos no estilo Lego.

A psicóloga Ana Carla Bonfá explica que o ato de brincar pode ter diversas funções na vida dos mais velhos. “A atividade estimula a convivência social, o vínculo entre pessoas da mesma família, melhora a criatividade e ainda alivia o stress”, garante. Há ainda um fator emocional que não pode ser desprezado: a reconexão com a infância. “Costumamos nos perder na correria do dia a dia, mas é muito importante olhar para si mesmo, se reconhecer na caminhada até a maturidade”, diz.

João Paulo Leal é especialista em redes de computadores e, aos 36 anos, é um exímio montador de blocos coloridos. Fissurado desde criança pela NASA, a agência espacial americana, viu nos kits de naves espaciais da Lego uma forma de materializar esse gosto pessoal. “Vivo compartilhando vídeos e fotos de astronautas fazendo manutenção em satélites na órbita da Terra. Leio sobre corpos celestes, estou sempre atento a conteúdo sobre o universo. Quando descobri que a Lego tinha parceria com a agência espacial, me interessei ainda mais pelo brinquedo”, diz. Leal afirma que lhe dá grande satisfação “terminar a missão”, ou seja, finalizar a montagem das naves e os foguetes. “Quando compro um set, esqueço de tudo, até de comer”, afirma. Suas próximas aquisições, porém, serão bem mais terrenas: kits de construções históricas como o Taj Mahal, o Palácio de Buckingham e o Capitólio americano. A brincadeira tem preços salgados no Brasil, ainda mais com a alta do dólar. Um dos lançamentos, o Coliseu, de Roma, já esgotado na loja oficial, está à venda no site “Mercado Livre” por R$ 6 mil.

HISTÓRIA Coliseu, da Lego: campanha voltada para adultos (Crédito:Divulgação)

Gente grande

Diretamente da Dinamarca, em entrevista exclusiva à ISTOÉ, a estrategista global de marketing da Lego, Genevieve Capa Cruz, contou que a pandemia aproximou as famílias durante o isolamento social e que a marca teve um papel fundamental nisso. A empresa não divulga dados oficiais sobre vendas, mas a executiva garante que as vendas cresceram significativamente no ano passado. Ela confirma que uma das estratégias recentes inclui o lançamento de jogos específicos para adultos, que contemplam figuras mais complexas que vão de flores e jardins até o cenário de séries como “Friends”. Há também reproduções voltadas para um público específico, como famosos estádios de futebol. “Hoje temos no portfólio mais de 70 produtos para atrair adultos, independentemente de suas paixões e interesses”, afirmou Genevieve. Batizada de “Adults Welcome” (Bem-vindos, adultos) a campanha da Lego foi lançada mundialmente no final de 2020.

 

DESAFIO Simone Bello: quebra-cabeça para se distrair na pandemia (Crédito:Divulgação)

Para quem gosta de “quebrar a cabeça”, o mercado oferece novidades que vão de mil a 25 mil peças. Um quebra-cabeças da Estrela traz quadros da pintora brasileira Tarsila do Amaral, que podem ser enquadrados depois de montados. A bancária aposentada Simone Bello, de 55 anos, é apaixonada por jogos de arte. Demorou 112 dias para montar as oito mil peças do quebra-cabeça que reproduz “A Boda Camponesa”, pintura de 1567 de Pieter Bruegel, mestre flamenco da Renascença. “Comecei a montá-lo em abril, uma das piores fases da pandemia. Ouvia as notícias na TV enquanto tentava me distrair. Quando estava pronto, decidi enquadrar para ficar como uma recordação desse período mórbido da nossa história”, diz. Há no Facebook diversos grupos de troca e venda de jogos, já que, depois de montado, é possível desmontar o jogo e trocá-lo por outro de mesmo valor. Nas redes sociais, aliás, a comunidade de adultos com esse hobby é gigantesca e reúne até pessoas que estão desesperadas para comprar uma peça perdida.
Já o modelismo é uma técnica antiga e inclui a recriação, em escala reduzida, de aviões, carros, navios de guerra e personagens. Arthur Neto, mecânico de aviões, se apaixonou pelo aeromodelismo na década de 1970 e nunca mais parou. Hoje, aos 59 anos, é obcecado pelos mínimos detalhes de suas pequenas aeronaves. “Os pequenos modelos são bastante fiéis aos originais”, afirma. Como seus outros amigos, ele leva seus brinquedos a a sério.

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