Existem duas formas para se conhecer a história de Marlone, meia que concorre nesta segunda-feira ao prêmio Puskas da Fifa de gol mais bonito do ano de 2016. No caminho mais curto, ele confessa que é filho adotivo e por essa razão incentiva campanhas relacionadas ao tema. No futuro, ele até planeja adotar uma criança – ele já é pai da Antonella, de pouco mais de um ano. “Eu poderia estar até hoje esperando para ser adotado. Se tiver oportunidade, vou querer adotar sim”, contou.

O caminho mais longo começa em Augustinópolis, cidade de 15 mil habitantes localizada na região conhecida como Bico do Papagaio, no norte do Tocantins. Na maternidade da cidade, um caso comoveu os moradores no começo de 1992. Deusa, menina de 13 anos, deu à luz os gêmeos Marlon e Marlone. Sem condições físicas e emocionais de ficar com os meninos (a gravidez foi resultado de um abuso sexual), ela decide doá-los. Marlon ficou com os avós maternos e se mudou para o Piauí; Marlone continuou no Tocantins com a família de Jaldo e Eunice.

O jogador ficou sabendo que era adotado quando tinha oito anos. Seu Jaldo abriu o jogo porque não gostava de nada escondido. O menino já tinha maturidade para entender as coisas, pois a mãe vendia salgados na rodoviária e o pai era servidor público. Marlone e mais cinco irmãos – havia mais outro adotado – tinham de se virar sozinhos. “Naquela época, éramos só Deus e a coragem. Somos pessoas humildes, mas o básico a gente tem”, contou seu Jaldo.

Marlon e Marlone sabiam da existência um do outro, mas só se reencontraram quando tinham 12 anos, novamente em Augustinópolis. Foi uma cena de cinema, como faz questão de contar Marlone. “Os meninos da cidade já sabiam dessa história, de que eu tinha um irmão gêmeo, mas não acreditavam. Quando voltavam do mercado, eles viram um menino igual a mim em um ponto de ônibus. Peguei a bicicleta e fui correndo. No quebra-mola, vi minha mãe e meu irmão pela primeira vez. É uma imagem que guardo até hoje. Foi emocionante”, comentou.

Os dois tentaram ficar juntos, mas os avós precisavam da ajuda de Marlon nas plantações do Piauí. Paralelamente, trilharam caminhos distintos no futebol. Marlone foi do Vasco, Cruzeiro, Fluminense e do Sport até ser contratado pelo Corinthians. Marlon atuou no Olaria, Madureira, Boa e hoje está no Gama, do Distrito Federal. O tempo dos dois não se perdeu. “Quando a gente se encontra é como se fôssemos dois meninos rolando pelo chão. É um jeito de recuperar a infância”, disse o meia corintiano.

Marlone tem uma relação distante com a mãe biológica, que mora no Piauí. “Eu ligo de vez em quando, mas não é a mesma coisa que os pais adotivos”. A experiência da adoção serve como inspiração para a vida. Antes de ser chegar ao Corinthians, Marlone foi um dos destaques da campanha “Adote um pequeno torcedor”, promovido pelo seu ex-clube, o Sport. O foco eram crianças acima de sete anos e adolescentes.

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O corintiano visitou uma instituição no Recife e mantém o interesse pelo tema em São Paulo. Segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA) existem cerca de 5.500 crianças em condições de serem adotadas. Já o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA) aponta que são 44 mil crianças e adolescentes em abrigos. “Aquilo ali (a visita ao abrigo) mexeu comigo porque eu poderia estar ali esperando um pai, uma família… o mundo deles é aquilo ali. Elas estão precisando de amor, pode ter certeza”.


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