A Justiça alemã adiou, nesta sexta-feira (16), pouco depois do início, o julgamento do principal suspeito do desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann em 2007, em Portugal, processado por estupros e crimes sexuais que não fazem parte do caso de repercussão internacional.

O tribunal decidiu interromper a audiência e adiá-la para a próxima sexta-feira, antes da leitura da acusação contra Christian Brückner, um alemão de 47 anos que será submetido a um julgamento de vários meses por agressões sexuais e estupros cometidos entre 2000 e 2017 em Portugal.

A defesa do suspeito levantou dúvidas sobre a imparcialidade de uma juíza assessora não profissional, psicoterapeuta infantil que defende os interesses das crianças. Segundo a defesa, sua profissão colocaria em dúvida a sua objetividade.

Afirmou ainda que a juíza pediu na Internet o assassinato do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Brückner apareceu nesta sexta-feira vestindo camisa roxa e paletó cinza, com uma expressão tranquila.

O processo, julgado no tribunal de Brunswick, norte da Alemanha, suscita expectativas, já que o acusado não comparece a uma audiência pública desde que foi indicado em junho de 2020 como principal suspeito pelo “caso Maddie”.

Isso representou um ponto de virada na investigação internacional com várias reviravoltas, pistas e hipóteses falsas.

Maddie desapareceu em 2007, pouco antes de completar quatro anos, na Praia da Luz, turística localidade do Algarve, extremo-sul de Portugal.

Brückner não foi formalmente acusado do desaparecimento da menina, mas foi a investigação do caso que o levou ao julgamento por crimes sexuais, disse Christian Wolters, porta-voz da promotoria de Brunswick.

“Sem a investigação do caso Maddie, estes supostos crimes não viriam à tona”, disse à AFP.

– Estupros, agressão sexual, exibicionismo –

O acusado cumpre atualmente uma pena de sete anos de prisão na Alemanha por estuprar, em 2005, uma americana, então com 72 anos, na Praia da Luz, a mesma localidade onde a família de Madeleine McCann passava férias.

O tribunal de Brunswick examinará várias acusações de crimes sexuais contra ele, entre eles, três estupros.

Suas supostas vítimas foram uma septuagenária, amarrada e espancada em seu apartamento de veraneio; uma menina de 14 anos, que ele amordaçou em um pilar de madeira na casa dela, e uma irlandesa de 20 anos, cuja casa ele invadiu pela varanda.

Também é acusado de abusar sexualmente de uma alemã de 10 anos em uma praia, em abril de 2007, meses antes do desaparecimento de Maddie, e exibicionismo a uma menina portuguesa de 11 anos.

O acusado pode ser condenado a uma pena de até 15 anos de prisão. Se não for declarado culpado, pode ser solto em 2026, segundo Wolters.

O advogado de Christian B., Friedrich Fülscher, afirmou que o seu cliente optou por se defender permanecendo em silêncio, mas que isso “não significa que ele tenha algo a esconder”.

“Garantir um processo justo será a maior dificuldade: a condenação do acusado pela imprensa não têm precedentes”, disse o advogado à AFP.

– “Fantasias sexuais” –

Entre as provas que a acusação apresentará estão depoimentos de testemunhas e cadernos apreendidos na casa do suspeito, disse Christian Wolters. Essas notas manuscritas e esboços dão uma ideia das “fantasias sexuais” do acusado, disse ele.

Maddie desapareceu do quarto do complexo turístico onde sua família passava as férias enquanto seus pais jantavam nas proximidades.

O seu desaparecimento desencadeou uma intensa campanha internacional para encontrá-la. As fotos da menina, com os cabelos castanhos cortados na altura dos ombros e os grandes olhos claros, correram o mundo.

As suspeitas contra Christian B., anunciadas oficialmente há quase quatro anos, reavivaram a esperança dos seus pais, Gerry e Kate, de finalmente avançarem na investigação.

As investigações arrastaram-se por anos até que as autoridades encontraram este alemão, que vivia a poucos quilômetros do hotel onde estava a família McCann.

Nesta nova fase da investigação, a polícia portuguesa realizou buscas em maio de 2023 perto de um reservatório de água no sul do país.

Novos “elementos” foram encontrados, disse a promotoria de Brunswick, embora “ainda seja muito cedo” para determinar se estão ligados ao desaparecimento da menina.

Os promotores alemães afirmam ter “provas concretas” da morte de Madeleine.

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