A gravidade da crise brasileira não parece incomodar Jair Bolsonaro. Ele continua agindo como se fosse um deputado do baixo clero. Dá até a impressão que não deseja ser Presidente da República. A vida de parlamentar dedicado as pautas do extremismo político — e, na maioria das vezes, sem qualquer efeito prático — era mais cômoda. Agora tem de ter uma visão de conjunto, governar para todos os brasileiros. E, pior, em um momento mais complexo da vida do país. Estamos assistindo — e aí é quase no sentido de simplesmente observar — a crise mais aguda da história republicana, tanto no campo da saúde pública, como na economia e na sempre presente tensão político-institucional.

O despreparo é evidente. Desconhece questões comezinhas da administração pública. De nada ajudou permanecer 28 anos como deputado federal e, em tese, acompanhar a os grandes temas da política nacional. Assumiu a Presidência da República como se fosse um deputado federal reeleito, com a mesma linguagem, a mesma prática e a mesma visão de mundo.

O mais terrível — para ele e, principalmente, para o Brasil — foi à coincidência da inépcia para o exercício de tão alta função com a mais grave crise desde 1889.

Neste cenário de horrores, Bolsonaro estimulou nos últimos meses um confronto permanente com as instituições e a Constituição. O tensionamento retirou o foco dos efeitos da pandemia e de como combatê-la. O país está sem rumo. A reunião de 22 de abril, que o Brasil tomou conhecimento com a divulgação determinada pelo ministro Celso de Mello, representa bem o estilo administrativo de Bolsonaro. É o caos como método de governo. E para agravar ainda mais este caldeirão de turbulências, a prisão do seu amigo — de mais de trinta anos — e auxiliar — um espécie de faz-tudo, literalmente falando —, Fabrício Queiroz, transformou o cotidiano do Presidente da República em um contínuo trabalho de buscar artifícios jurídicos para evitar, além do impeachment, uma possível prisão por delitos gravíssimos cometidos nas relações perigosas — não as do livro de Choderlos de Laclos — com as milícias cariocas, sempre
de acordo com as investigações principalmente do Ministério Público do Rio de Janeiro.

Se a imagem externa do Brasil já estava arranhada, os últimos acontecimentos apresentaram ao mundo um país que, além de agir pessimamente em relação à pandemia, ao meio ambiente e aos direitos humanos, tem na Presidência da República um cidadão envolvido, segundo as denúncias, com o crime organizado.

Segundo as investigações no caso Queiroz, o Brasil pode ter seu presidente envolvido com o crime organizado