Seria lugar comum dizer apenas que a imprensa brasileira ficou órfã. Nirlando Beirão, o jornalista magnânimo e brilhante em todos os aspectos, merecia mais. “Nirla”que nos deixou nessa quinta,31, vítima da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), era a expressão da beleza e pureza das palavras em pessoa. “O TEXTO”! Senhor da linguagem escrita, dominando seus fundamentos com incomparável destreza. Nirlando, nosso amigo, mestre, companheiro de tantas jornadas, era, indiscutivelmente, como muitos o alcunharam, o príncipe do jornalismo, uma das melhores penas a registrar a realidade de nosso cotidiano, interpretando com sutileza e ironia raras os acontecimentos que marcaram nossas vidas em décadas recentes – e até passadas. Sua demonstração de resistência e riqueza de ideias ele expressou até o último momento, usando, como ele dizia, a mão direita que lhe serviu de instrumento mesmo com o avanço da doença. “Sou hoje a minha mão direita. De todas as roldanas, polias, gruas e alavancas subcutâneas que comandam, com competência invisível nossos movimentos, este é o único item da anatomia que não me traiu miseravelmente”, escreveu em “Meus Começos e Meu Fim”, uma aula de jornalismo e literatura, que concluiu ainda em meio ao tratamento que enfrentava. O encanto que Nirlando promoveu entre aqueles que tocava com seus artigos, reportagens e análises ficará para sempre marcado e registrado através dos inúmeros veículos de mídia e publicações, em especial nos da Editora Três, onde trilhou uma carreira sem igual. Entre nós, que tivemos a honra de conviver, dividir os dias de trabalho e aprender com a sua inteligência, Nirlando Beirão foi muito mais. O orientador da tropa, o colega das brincadeiras, que a todos iluminava com as suas finas sacadas, o professor. Na lembrança, os belos momentos alimentarão nossa saudade. Juntos estivemos nas revistas ISTOÉ e SENHOR, recriamos a Revista STATUS, que teve nele o primeiro diretor. Nirlando o jornalista de alma sensível, de olhar aguçado e de elegância no trato, foi mesmo incomparável na percepção da realidade que nos cerca. Até na da dele, sobre a qual tratou com uma passagem em seu livro-testamento que, naturalmente , se converte em lição de vida e persistência: “Minha companheira de todos os dias passou a ser a palavra ‘limite’. Tentar tornar os obstáculos mais elásticos é o que me resta, na ansiedade de um legado ainda sonhado”, escreveu em “Meus Começos e Meu Fim”, lançado em maio de 2019. Para Nirlando, o fim não chegará nunca. Ele continua entre nós através do que nos deixou.