Em um ritual purificador para jovens seguidores de um antigo culto animista da Indonésia, Subrata, de 81 anos, acredita que as futuras gerações conseguirão vencer a discriminação e obter o reconhecimento desta fé presente no país muito antes da chegada do islã e do cristianismo.

Subrata segue o antigo culto Sunda Wiwitan, nascido em Java Ocidental, a província mais populosa deste país eminentemente muçulmano, que costuma rotular estes fiéis como pessoas “sem Deus”.

“Acredito que as pessoas vão parar de tratar as criaturas de Deus de maneira diferente”, diz o idoso, sem sobrenome, como muitos indonésios, no vilarejo de Cigugur, cerca de 200 quilômetros a leste de Jacarta.

Os apoiadores de Sunda Wiwitan enfrentam discriminação generalizada, com políticas que os impedem de se candidatar a empregos públicos, ou de terem seus casamentos reconhecidos.

“Sou cidadão deste país. Mesmo assim, me excluem na minha terra”, desabafa Subrata.

Ao seu redor, estão sendo feitos os preparativos para celebrar o Seren Taun, a festa anual da colheita, proibida até o fim da ditadura de Suharto, em 1999.

Antes do ritual “Pesta Dadung” para afastar possíveis pragas, homens vestidos de preto entoam orações solenes, enquanto acendem uma fogueira, e mulheres vestidas de branco cantam na língua tradicional. Seu rito venera o espírito dos ancestrais fiéis e o poder da natureza.

Muitos entendem esse ritual como um culto aos mortos e tacham os seguidores dessa religião de infiéis, primitivos, ou idólatras sem fé.

Agora aposentado, Subrata conta que, enquanto trabalhava como funcionário público, promoções foram-lhe negadas, e sua fé foi questionada.

– Estigma social –

A Indonésia reconhece apenas seis grandes religiões entre as centenas de crenças locais no país. Antes de 2017, mais de 10 milhões de seguidores dessas religiões nativas tinham de preencher o campo “religião” em sua identidade com um traço. Isso causava problemas burocráticos para renovar a carteira de motorista, candidatar-se a determinados empregos, ou assumir cargos na administração.

Em 2017, o Tribunal Constitucional permitiu que eles preenchessem a coluna de religião com a frase: “Crença em Deus Todo-Poderoso”. Mas os obstáculos continuam, e muitos lamentam que essa mudança ainda não os permita declarar sua verdadeira religião.

“Somos todos diferentes. Por que eles têm que nos agrupar em uma categoria?”, questiona Dewi Kanti Setianingsih, um defensor dos direitos de Sunda Wiwitan.

Sem uma religião definida oficialmente, seus seguidores não podem registrar legalmente seus casamentos e se veem forçados a se casar em núpcias não oficiais, o que gera ainda mais estigma.

“O status de seus filhos não será reconhecido por lei, e eles serão considerados filhos nascidos fora do casamento”, explica Setianingsih.

Além disso, os ativistas garantem que as autoridades locais tentam fechar suas sepulturas, alegando falta de licenças.

O governo nega a desigualdade. “O ministério não pode oferecer este serviço para tantas religiões, então decidimos por um termo universal”, alega Sjamsul Hadi, funcionário de alto escalão do Ministério da Educação, Cultura, Pesquisa e Tecnologia.

No início dos anos 1960, havia cerca de 15.000 seguidores do Sunda Wiwitan, diz Setianingsih. O número exato é difícil, no entanto, de se estabelecer, porque muitos escondem sua fé.

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