A saída de Carlos Cereto da Globo parece ter revelado os problemas do jornalista com funcionários da emissora. O ex-apresentador do SporTV foi acusado de assédio moral e sexual por funcionárias e em um dos casos ele já foi até condenado na Justiça.

Apesar de negar as acusações, Cereto foi considerado culpado em 2019 na Justiça do Trabalho e a Globo foi condenada a indenizar uma funcionária por assédio moral entre 2013 e 2015. Na época, o jornalista era chefe de reportagem do SporTV em São Paulo.

O UOL teve acesso aos emails e registros de conversas em aplicativos de mensagem na qual Cereto faz ameaças de demissão e faz duras críticas ao funcionários. Além disso, no processo consta os relatos de testemunhas e uma acusação de assédio sexual.

Condenação em processo

O processo referido no qual Cereto foi condenado teve a decisão judicial baseada em emails, testemunhas e comunicações internas da Globo, o que caracterizou de acordo com a juíza responsável pelo caso o chamado “mobbing” — assédio moral caracterizado pela perseguição, com repetidas cobranças públicas e constrangimento.

“Esses elementos somados aos documentos encartados aos autos pela autora (e-mails e mensagens de WhatsApp em qualquer hora do dia inclusive de madrugada), têm-se que houve prática de ato abusivo (CC/2002, 187) por parte do Diretor-chefe da autora —sr. Carlos Alberto Cereto —, sendo que a ré, através de seu preposto, violou a regra de tratamento com urbanidade com o seu colaborador (trabalhador). Houve excessos por parte do Sr. Carlos em relação à autora”, diz a decisão o qual o UOL teve acesso.

Em um dos relatos no processo, uma das testemunhas alega que era normal ouvir Cereto gritando na redação.

“Note-se que a própria testemunha da reclamada disse que o sr. Carlos costumava gritar no setor. Considera-se que houve uma ofensa à dignidade da autora”.

Para corroborar com a versão da autora da ação, outra testemunha disse ainda que o jornalista por inúmeras vezes chamou a reclamante de incompetente em tom fora do normal e próximo dos demais funcionários.

“Com a autora [da ação] e mais especificamente com a figura feminina, Carlos praticava condutas de humilhação, criando ambiente de terror psicológico em tom de voz alto, praticamente todos os dias, o que foi presenciado pelo depoente até sair do Arena SporTV”, afirma o depoimento.

“Ele falou inúmeras vezes na redação que mulher não entende de futebol, apesar de ele ter uma equipe na época com muitas mulheres. Chegou a ‘ameaçar’ a equipe dizendo que se não levássemos um certo número de pautas por semana, ele pararia de mandar em viagens. Também disse que, em qualquer briga ou discussão, teríamos que estar sempre do lado dele”, diz uma ex-funcionária ouvida pelo UOL.

A decisão ainda cabe recurso por parte da Globo, a qual ainda tenta derrubar a questão de assédio moral.

O que diz Cereto?

O ex-apresentador da Globo foi questionado pelo UOL e negou que tenha cometido as atitudes que caracterizam assédio. Cereto ainda demonstrou surpresa, pois segundo ele a emissora não chamou sua atenção por qualquer comportamento fora dos padrões.

“Honestamente, não procede. Terei que me defender de alguma maneira. Isso não aconteceria sem que a Globo tomasse uma decisão. Segui na Globo por anos depois dessa ação, que é de 2016. A emissora tem um departamento de compliance, leva tudo isso muito a sério. Ainda fui transferido para o Rio depois, foi uma promoção, para apresentar o programa. Estou saindo de comum acordo”, diz o jornalista.

Advogado do apresentador, Jonas Marzagão afirma que é impossível se defender de uma acusação apócrifa e sem os fatos. “Como advogado de defesa, me causa surpresa. É difícil nos defendermos se não sabemos quem são os denunciantes, onde está essa denúncia, quais são os fatos alegados”.

Ao UOL, a Globo diz que a saída de Cereto foi “uma decisão de gestão” e que “todo relato de assédio, moral ou sexual, é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e incentiva que qualquer abuso seja denunciado”. A emissora não confirmou nem negou se recebeu as denúncias.