A estreia do último filme de Roman Polanski na França, nesta quarta-feira (13), foi marcada por protestos, devido a uma nova acusação de estupro contra o diretor, que abalou o apoio de que desfruta na indústria francesa do cinema.

A promoção de “J’accuse”, Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza, foi alterada: seus protagonistas Jean Dujardin e Emmanuelle Seigner, esposa de Polanski, tiveram de cancelar as costumeiras entrevistas de promoção.

Várias feministas bloquearam na terça-feira a pré-estreia do filme em um cinema parisiense, aos gritos de “estuprador Polanski”, enquanto no Twitter circulava um apelo ao boicote da obra.

O cineasta franco-polonês de 86 anos foi acusado na sexta-feira por uma francesa, Valentine Monnier, de tê-la estuprado depois de espancá-la em 1975, na Suíça, quando ela estava com 18 anos, em um testemunho publicado no jornal “Le Parisien”.

Por meio de seu advogado, Polanski negou essas acusações e disse que estuda uma “ação legal”.

O diretor é considerado foragido da Justiça dos Estados Unidos, onde, em 1977, foi acusado de estuprar uma menor de 13 anos. Outras mulheres alegaram terem sido abusadas sexualmente por ele nos últimos anos.

– Perseguição –

Denunciando o “séquito incondicional de intelectuais e artistas” que continuam a apoiar o diretor, Valentine disse que decidiu tornar público seu testemunho para contrariar comparações entre o cineasta e seu último filme.

“J’accuse” conta o erro judicial histórico de que o militar judeu Alfred Dreyfus foi vítima no final do século XIX na França, por razões antissemitas.

“Estou familiarizado com muitas das performances do aparato de perseguição exibido no filme”, disse o diretor, que afirma ter sido injustamente criticado durante anos pela opinião pública.

Um protesto popular o forçou em 2017 a recusar o convite para presidir o Prêmio César, o Oscar do cinema francês.

A secretária de Estado para a Igualdade de Gênero, Marlène Schiappa, afirmou que não iria assistir ao filme: “Não quero comprar um ingresso de cinema nesse contexto”.

“É um filme que não vou ver, porque se pode premiar Polanski com isso. Não se pode virar a página”, afirmou, ao convocar o boicote.

– “Eu abuso” –

No Twitter, alguns internautas compartilharam a hastag #BoicotePolanski, enquanto circulavam outras modificando o título do filme, como “Eu abuso”.

Outros apoiaram o diretor, de família judia.

“É muito sério agredi-lo neste momento, quando há um aumento do antissemitismo na Europa”, disse a diretora Nadine Trintignant.

Na pré-estreia oficial de terça-feira na Champs-Élysées, em Paris, à qual Polanski compareceu, muitos dos convidados disseram “diferenciar o homem do cineasta”.

“Venho ver o trabalho do diretor. Não sei se do que é acusado é verdadeiro, ou não”, disse à AFP uma das espectadoras, Seny Carette.

Em Paris, mais de 3.100 ingressos foram vendidos nas primeiras sessões dos filme.

Mas o escândalo levou a Sociedade Civil de Autores, Produtores e Produtores (ARP), da qual Polanski faz parte, a anunciar que estudará medidas contra membros que foram julgados por agressão sexual.

“A seriedade do momento força nosso conselho de administração a se expressar”, declarou o ARP.

A decisão da ARP também veio depois da primeira vez em que uma conhecida atriz francesa, Adèle Haenel, denunciou na semana passada ter sido vítima de um ataque sexual na indústria. Ela acusou o diretor Christophe Ruggia de “assédio permanente”, quando ela era adolescente.