Investigado por tentativa de golpe de Estado, ex-presidente reuniu apoiadores e aliados políticos em ato na Avenida Paulista.Apoiadores de Jair Bolsonaro participaram neste domingo (25/02) de uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo. Convocado pelo próprio ex-presidente, o ato ocorreu enquanto Bolsonaro enfrenta o avanço de uma série de investigações e o temor crescente entre seu círculo de que sua prisão esteja próxima.
Vestidos de verde amarelo e, em alguns casos empunhando bandeiras de Israel, apoiadores do ex-presidente encheram algumas quadras da Avenida Paulista para acompanhar um discurso do político de extrema-direita, que atualmente está inelegível até 2030, mas ainda mantém capital político após perder a reeleição em 2022.
Acompanhado pelos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), Bolsonaro aproveitou o ato para se pintar como vítima de perseguição e negar que tenha orquestrado uma tentativa de golpe.
"O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil", disse Bolsonaro. "Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência."
o ex-presidente ainda defendeu uma anistia aos seus apoiadores que foram presos durante a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. "O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É buscar maneira de nos vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados. É por parte do Parlamento brasileiro (…) uma anistia para aqueles pobres coitadas que estão presos em Brasília", disse.
Instruções para evitar ataques ao STF
O tom usado pelo ex-presidente foi mais contido do que em manifestações anteriores. Bolsonaro, por exemplo, evitou direcionar ataques diretos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como fez no passado e também não citou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes do ato, Bolsonaro pediu a seus apoiadores para não levarem faixas e cartazes "contra quem que seja" para o ato, numa tentativa de evitar novas tensões com a Justiça. Em atos anteriores, não era incomum ver bolsonaristas com faixas com ataques e ofensas contra ministros do STF e pedidos de "intervenção militar" (um eufemismo para golpe).
Por outro lado, em seu discurso, o ex-presidente reclamou do TSE que o declarou inelegível e criticou o STF pelas penas de condenados pelo 8 de janeiro de 2023. Outros membros do seu círculo que também discursaram, como o pastor ultraconservador Silas Malafaia, foram mais diretos em críticas a alguns ministros da Corte, como Alexandre de Moraes.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, também discursou. No dia 8 de fevereiro, ele foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) por posse de arma irregular.
Ato em momento que cerco se fecha
O ato deste domingo foi convocado por Bolsonaro no dia 12. No início do mês, o ex-presidente foi alvo de uma busca e apreensão pela Polícia Federal no âmbito de uma investigação por suspeita tentativa de golpe de Estado. Ele também é alvo de investigações por fraude em cartão de vacinação, ingresso irregular de joias sauditas no país e participação num esquema de milícias digitais para atacar adversários. Na última quinta-feira, ele permaneceu em silêncio em depoimento à PF.
A situação do ex-presidente se complicou mais nas últimas semanas, após a divulgação de provas da sua participação na trama golpista. Entre as evidências estão um texto encontrado na sala de Bolsonaro na sede do PL em Brasília, que trata de uma proposta de decretação de estado de sítio e de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que seria uma das diversas "minutas golpistas" produzidas pelo círculo de Bolsonaro depois da derrota no pleito de 2022.
As investigações da PF também apontaram que Bolsonaro, quando ainda ocupava a Presidência, pediu ajustes num desses documentos que continha um plano para a prisão de Alexandre de Moraes. Outra prova divulgada envolve a gravação de uma reunião ministerial em 2022 na qual Bolsonaro instiga seus ministros a lançarem ataques contra o sistema eleitoral do país.
jps (ots)