Imagine um açougue onde os produtos vendidos não são de origem animal. Será que uma picanha de grão de bico tem apelo em um país onde o churrasco é parte da identidade nacional? Apesar de inusitado, esse tipo de estabelecimento é uma novidade recente do mercado mundial e a nova moda também ganha força na indústria alimentícia por aqui. Somente no Brasil, segundo pesquisa do Ibope realizada em 2019, o número de pessoas que adotaram uma dieta vegetariana dobrou nos últimos seis anos: estima-se que 29 milhões de brasileiros já abandonaram o consumo de carne.

“Os produtos mais vendidos são a costelinha de cogumelo, a carne de jaca e a linguiça de beterraba”
Marcela Izzo, chef vegana

Há também a restrição a produtos de origem animal em modo mais moderado, praticado por gente que reduziu o consumo a apenas um dia na semana ou cortou só as carnes vermelhas do cardápio. A indústria de alimentos está de olho nessa tendência. Da gigante BRF, dona da Sadia e Perdigão, às pequenas marcas familiares, ninguém quer perder essa fatia crescente de consumidores. Para Celso Fortes, um dos criadores da rede “Acougue Vegano”, a busca por uma dieta vegetal não significa a adoção de uma dieta restritiva. “Uma refeição vegana é só mais uma opção. A pessoa come um dia na churrascaria, no outro em um restaurante italiano. O vegano pode entrar nessa escolha”. A empresa de congelados de Fortes decolou na pandemia e ele vendeu franquias do negócio até para empreendedores no estado do Piauí. Já o açougue “No Bones”, da chef Marcella Izzo, foca na produção de alimentos naturais, sem sojas transgênicas ou conservantes. “Os produtos mais vendidos são a costelinha de cogumelo, a carne de jaca e a linguiça de beterraba.” Marcella divide a produção em dois tipos: os industrializados, que imitam o gosto da carne por meio de corantes e aromas, e os artesanais, produzidos em pequena escala. “O tempero é feito com pimentas e a coloração, com beterraba, por exemplo”.

Nutrição consciente

Há carnes feitas com cogumelos, grãos, lentilha, grão-de-bico e soja. A nutricionista Cyntia Maureen, da rede vegana Superbom, explica que os processados não são vilões. “Alguns aromatizantes são sintéticos, mas isso não significa que são prejudiciais à saúde. As proteínas são enriquecidas com vitaminas e minerais e oferecem uma nutrição balanceada”, diz. Com pratos criativos e balanceados, as carnes vegetais têm tudo para entrar na mesa até de quem jamais pensou em deixar de ser carnívoro.

SEM SANGUE Espetinhos, linguiças e hambúrgueres: produzidos à base de plantas e grãos (Crédito:Divulgação)