O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, foi recebido, nesta quinta-feira (22), com honras pelo presidente Joe Biden na Casa Branca, confirmando o desejo dos Estados Unidos de fortalecer as relações com esse parceiro estratégico.

Milhares de membros da comunidade indiana nos Estados Unidos, alguns com trajes tradicionais, deram as boas-vindas expostos a uma pequena chuva, gritando “Modi, Modi” e balançando pequenas bandeiras indianas e americanas.

Nesta visita de Estado, prevê-se a assinatura de inúmeros acordos, em particular, na área de defesa, para satisfação dos americanos, ansiosos em aparar as arestas em sua relação com a Índia.

Modi foi recebido, primeiramente, pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com honras militares, antes de uma reunião no Salão Oval.

“Durante muito tempo, acreditei que a relação entre os Estados Unidos e a Índia seria uma das mais decisivas do século XXI”, disse Biden em seu breve comentário de abertura, em que enfatizou ao líder indiano os valores de “liberdade de expressão” e “pluralidade religiosa”.

Várias associações têm acusado Modi de alimentar as perseguições contra a minoria muçulmana na Caxemira e de pressionar a imprensa e a oposição.

Modi destacou que “as sociedades e instituições tanto dos Estados Unidos como da Índia se baseiam em valores democráticos”, e acrescentou que os dois países estão “orgulhosos de sua diversidade”.

Os dois líderes, que emitiram um comunicado em conjunto, se dirigirão em seguida à imprensa e responderão suas perguntas, um feito pouco comum para o chefe de Governo nacionalista hindu.

Depois o líder asiático irá ao Congresso, e depois a um jantar de gala nos jardins da Casa Branca, que servirá um menu que, em sua homenagem, será vegetariano e inspirado na cozinha indiana.

A visita, no entanto, não é do agrado de todos: parlamentares democratas anunciaram sua intenção de boicotar o discurso do líder indiano no Congresso, pois põem em questão o respeito aos direitos humanos e à liberdade religiosa na Índia.

Deixando de lado os eventos sociais, o anúncio mais esperado desta quinta será sobre a futura fabricação, na Índia, de motores F-414 para aviões de combate pela companhia General Eletric, disse um alto funcionário americano em uma entrevista a jornalistas.

– “Pioneira” –

Esta mesma fonte, sob anonimato, considerou que se tratava de uma “iniciativa pioneira”, que conduzirá a importantes transferências de tecnologia americana.

O mesmo alto funcionário também indicou que a Índia “se comprometeu com a aquisição de drones de combate americanos” e acrescentou, sem dar detalhes: “Estamos absolutamente encantados”.

De fato, Biden só pode estar encantando, ao ver a Índia diversificando seu equipamento de defesa, já que historicamente o país dependeu da Rússia nessa área.

Segundo outro alto funcionário americano, o grupo americano Micron, peso pesado na fabricação de semicondutores, essenciais no setor da informática, anunciará um investimento de mais de 800 milhões de dólares (aproximadamente R$ 3,9 bilhões) em uma fábrica na Índia.

O alto funcionário disse que cabe aos Estados Unidos e à Índia construírem um “ecossistema de semicondutores que permita a diversificação das cadeias de abastecimento”, cuja fragilidade ficou evidenciada com a pandemia de covid-19.

Biden e Modi também anunciaram, segundo altos funcionários da Casa Branca, iniciativas conjuntas na exploração espacial e de metais estratégicos, assim como associações marítimas e a abertura de consulados.

– Sem sermões –

A recepção com grande pompa ao primeiro-ministro indiano ilustra o desejo dos Estados Unidos de aprofundar a parceria com o país mais populoso do mundo.

Biden quer acreditar que as ambições da China, que preocupam Nova Déli e que Washington está fazendo todo o possível para neutralizar, convencerão a Índia a se voltar em direção aos Estados Unidos.

E mesmo que, inclusive, esse país, historicamente não alinhado, nuca se torne um aliado puro e duro.

Para fortalecer a relação bilateral, o democrata de 80 anos, que prometeu articular sua política exterior em torno da defesa da democracia, deve evitar abordar o tema dos direitos humanos e das liberdades diretamente com o primeiro-ministro indiano.

O presidente americano “aborda essas discussões e temas (em torno da democracia) com certa dose de humildade”, disse um alto responsável da Casa Branca, destacando que os Estados Unidos “têm seus próprios problemas” na matéria.

Biden “busca ter um diálogo baseado nos desafios comuns (…) ao invés de dar sermões ou repreender”, disse.

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