Um acordo que preserve a livre-circulação de mercadorias e de pessoas entre Gibraltar e a Espanha quando terminar o período de transição pós-Brexit “não é fácil”, mas ainda é possível – disse à AFP o ministro-chefe deste território britânico, Fabián Picardo.

Madri, Londres e Gibraltar negociam esse acordo, em paralelo às discussões sobre um tratado de livre-comércio entre a União Europeia e o Reino Unido, que oficialmente deixou o bloco em 31 de janeiro.

Desde então, aplica-se um regime transitório, que expira em 31 de dezembro.

“Estamos trabalhando muito duro para chegar a um acordo. Isso não significa que o acordo seja fácil. Mas continua sendo o que queremos”, disse Picardo esta semana em entrevista à AFP.

Este pequeno território britânico de importância estratégica no extremo sul da Península Ibérica importa todos os alimentos consumidos por seus 34.000 habitantes. E cerca de 15.000 pessoas cruzam a fronteira da Espanha todos os dias para trabalhar.

Sem um acordo, o comércio entre Gibraltar e Espanha estará sujeito a tarifas a partir de 1o de janeiro, com as consequências econômicas que isso implicaria para ambas as partes.

Diante dessa possibilidade, “trabalhamos com fornecedores fora de Gibraltar (…) para garantir que, se necessário, possamos obter (…) alimentos e todos os insumos necessários para que a economia funcione sem entrar em colapso”, disse Picardo.

“O plano de contingência vai garantir bens essenciais, mas a vida mudará radicalmente – e para pior -, se não houver acordo, e não só para os gibraltinos, alertou Picardo.

A Espanha cedeu Gibraltar para a Grã-Bretanha em 1713, mas reivindica a restituição do território. Em 1969, o ditador Francisco Franco fechou a fronteira e impôs um bloqueio que não foi totalmente levantado até 1985.

Em 2013, a Espanha intensificou os controles, gerando problemas na fronteira, até que Bruxelas interveio.

“Não prevejo, sob qualquer cenário, que a fronteira será fechada a partir de 1º de janeiro”, disse Picardo.

O ministro-chefe reiterou que Gibraltar pode aderir ao espaço Schengen dos países europeus, entre os quais se pode circular sem passaporte, para garantir a liberdade de circulação com a Espanha.

“Procuramos um acordo que permita o máximo nível possível de fluidez” na circulação de pessoas, acrescentou Picardo.