Entra em vigor amanhã um acordo bilateral entre Brasil e França que facilitará a concessão de visto para trabalhar no exterior. O programa beneficiará jovens de 18 a 30 anos, que terão entrada permitida durante um ano, em viagens que tenham como objetivo tanto turismo quanto experiência profissional.

Para ter o visto concedido, é necessário apresentar uma carta de motivação e currículo em francês. O interessado deve comprar a passagem de volta ou comprovar que dispõe de dinheiro para o retorno, além de recursos financeiros suficientes para pagar pela estadia no início da viagem. Não é permitido viajar com crianças.

No caso dos brasileiros, o pedido de visto deve ser feito junto à representação diplomática ou consular da França. Há sedes no Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo.

No Brasil há sete meses, o francês Basile Charpentier, de 23 anos, está pensando em aproveitar a oportunidade para ficar mais. Como veio ao País para fazer um curso de mestrado em Administração em Belo Horizonte, seu visto não permite que ele trabalhe.

O dinheiro que economizou para a viagem deve durar só para os próximos seis meses, período em que Charpentier ainda estará matriculado no curso. Com o novo acordo, ele agora pretende pedir um novo visto logo em seguida à formatura.

“Acho que, para mim e para muitos outros franceses que conheci em São Paulo, esse visto ajuda muito as pessoas”, diz o administrador. “Fiquei apaixonado pelo País, a cultura e as pessoas. Estou muito feliz pela criação desse visto.”

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Aumento

Segundo a agência de intercâmbios EF, a procura pela França como destino aumentou nos últimos anos, embora isso não esteja relacionado com a aprovação do programa. A capital francesa, Paris, foi um dos cinco destinos mais procurados por brasileiros na região Nordeste em 2017. A agência destaca que o visto temporário que permite trabalho integral, sem que o candidato esteja estudando, é uma diferença importante em relação às regras anteriores entre os dois países.

“Acreditamos que parte das oportunidades estejam relacionadas à área de formação e interesse do profissional”, diz Andrea Arakaki, diretora geral da agência no Brasil. “Ainda é difícil prever na prática qual será o nível de abertura no mercado de trabalho francês para os profissionais brasileiros, mas estamos otimistas.”

O programa não exige que o candidato saiba falar francês, mas dá preferência a quem conhecer a língua. Grau de escolaridade e facilidade no idioma devem ajudar quem quer ficar. “Acreditamos que será um diferencial no momento de encontrar oportunidades profissionais”, diz Andrea.

PING

Andrea Tissenbaum, especialista em educação internacional e autora do Blog da Tissen.

Há outros países que oferecem oportunidades semelhantes a brasileiros?

Sim. A Nova Zelandia há anos oferece o programa Working Holiday Visa. O programa é resultado de um acordo da Nova Zelândia com o Brasil e abre inscrições anualmente (em agosto), concedendo um determinado número de vistos para que brasileiros possam visitar e trabalhar no país por até um ano.

Como se planejar para a mudança de país, levando em consideração o prazo de permanência?

Eu penso que é sempre bom aproveitar uma oportunidade dessas para fazer um ou mais cursos de curta duração – aprimoramento de idioma, cursos mais especializados, etc. Por isso, é fundamental fazer um planejamento antes de ir, um mapeamento das cidades onde a pessoa pensa em viver. Entender o que cada lugar oferece em termos de aprendizado, estilo de vida, possibilidades de estudo e de trabalho é importante antes da partida. Ter essas informações ajuda a pessoa a se organizar e certamente a aproveitar melhor o tempo que terá no país. Por exemplo, como a duração do trabalho com esse visto pode ser limitada, pensar em viver por temporadas curtas em diferentes cidades do país é uma opção muito interessante. É uma maneira de conhecer vários aspectos e formas de vida na França, certamente uma exposição bem enriquecedora para quem vai.

É recomendável embarcar sem dominar o idioma, para aprender a falar já no país?


É sempre bom chegar em um novo país onde se vai ficar por uma temporada mais prolongada com um conhecimento mínimo do idioma local. Não digo que é necessário ter fluência ou um nível avançado no idioma, falo do necessário para poder se virar – comer, andar de ônibus etc. – como um gatilho que dá abertura ao aprendizado. É uma forma de evitar o isolamento em comunidades de brasileiros fora do país e um convite à imersão cultural que o intercâmbio de um ano se propõe a oferecer. Para quem não tem nenhum conhecimento da língua, sugiro fazer um intensivo antes de partir – por conta própria ou em um curso presencial ou online. Vai se sentir mais seguro ao chegar e conseguir um trabalho será mais fácil. No entanto, também acho que a oportunidade de aprender melhor ou aperfeiçoar-se no idioma deve ser aproveitada. Afinal, esta é uma chance bem única de mergulhar em uma nova cultura, aprender os códigos locais e trazer de volta os melhores frutos da experiência.


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