Ações humanas no ambiente podem explicar pandemias

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Covid-19, Ebola e varíola símia: surgimento e ressurgimento de doenças podem estar ligados a atividades humanas, como o desmatamento de florestas e práticas agrícolas

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Não bastasse a pandemia de Covid-19, o mundo enfrenta uma explosão de casos de varíola símia (popularmente chamada de varíola dos macacos) e, nas últimas décadas, diversos surtos de Ebola foram detectados. À primeira vista, trata-se de doenças bem diferentes: uma causada por um vírus novo (SARS-CoV-2), uma infecção bem conhecida, mas que raramente era vista fora do continente africano (a varíola), e uma infecção gravíssima que causa surtos periódicos, com risco de disseminação global (o Ebola).

Mas, embora bastante diferentes, elas têm algo em comum: muito possivelmente as três têm relação com vírus que infectavam apenas animais. E isso pode ajudar a responder o que todos querem saber: como apareceram? Por que se espalham tão rápido? Quanto devemos nos preocupar? E como prevenir?

Sabe-se que metade das novas doenças infecciosas surgiu na vida selvagem, uma proporção que vem crescendo nas últimas décadas. “O que isso nos mostra é que os vírus que estão na natureza não necessariamente ficam ‘quietos’”, explica a infectologista Vivian Avelino-Silva, pesquisadora e professora da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e da Faculdade de Medicina da USP.

Isso quer dizer que, em algum momento, eles podem dar um “salto” entre as espécies. Em outras palavras, um microrganismo que antes causava doença apenas em algumas espécies pode passar a adoecer outros animais ou até humanos, dependendo de mudanças nas relações entre eles.

Isso pode acontecer, por exemplo, quando causamos desmatamento, deslocando animais silvestres de seus habitats e favorecendo a interação entre diferentes grupos de animais ou humanos; ou ainda quando provocamos o confinamento de grandes grupos de animais, como as aves de criação, favorecendo a transmissão de agentes infecciosos entre esses animais e também para as pessoas que cuidam deles.

Ao nos pegar desprevenidos (sem contato prévio e sem imunidade), esses novos microrganismos podem se disseminar com facilidade, atingindo em cheio indivíduos mais vulneráveis – aqueles que têm o sistema com menor capacidade de resposta, ou que apresentam saúde mais frágil, seja por alguma outra doença, como o câncer, ou pela própria idade. Isso explicaria, por exemplo, a velocidade de propagação da nova varíola, os mais de seis milhões de mortos por Covid-19 no mundo e os surtos recorrentes de Ebola documentados nas últimas décadas.

Até mesmo nos casos recentes da hepatite aguda infantil misteriosa, uma hipótese é que uma infecção por um adenovírus, normalmente inofensivo, em quem teve recentemente a Covid-19, poderia levar a uma inflamação atípica do fígado, às vezes grave, em alguns pacientes.

Mudanças no ambiente

O problema é que há cada vez mais condições para que vírus que afetam apenas animais passem a atingir também as pessoas. Não à toa, em outubro de 2021, o Harvard Global Health Institute divulgou um relatório em que enfatiza o papel da destruição das florestas tropicais, da expansão agrícola, da caça e comércio de espécies selvagens nesse fenômeno.

Embora vírus transmitidos por gotículas e aerossóis tenham maior potencial pandêmico, a epidemia de zikavírus mostrou que aqueles propagados através de um vetor, no caso um mosquito, também podem se espalhar facilmente. A transmissão mais eficiente explica também por que a maioria das pandemias é causada por vírus, e não por bactérias. Mas isso não significa que essa possiblidade não exista – basta lembrar da peste negra que dizimou a Europa no século XIV.

“Acredito que teremos mais pandemias e mais frequentes”, diz Vivian. Embora a prevenção dependa muito de ações de governos e entidades, como zelar pela biodiversidade, proteger áreas silvestres e promover a exploração sustentável de recursos, cada um também pode fazer a sua parte: “consumir menos combustíveis fósseis, usar menos água, perguntar pela procedência do que compra, escolher sempre o que causa menos impacto ambiental”, exemplifica a pesquisadora. Afinal, a nossa saúde depende diretamente da saúde do ambiente e da saúde dos animais.

Fonte: Agência Einstein

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