Ações da família Bolsonaro sobre sanções dos EUA fortalecem Lula, diz especialista

Ricardo Stuckert
Lula exibe boné e fala em soberania nacional Foto: Ricardo Stuckert

Nesta semana, a tensão entre o Brasil e os Estados Unidos cresceu ainda mais. Na quarta-feira, 30 de julho, a Secretaria do Tesouro norte-americano anunciou a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes — ato comemorado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Poucas horas depois, o presidente Donald Trump assinou o decreto que impõe a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros importados ao país.

O comunicado assinado pelo secretário Scott Bessent afirmou que Moraes prendeu pessoas arbitrariamente e suprimiu a liberdade de expressão. O documento citou ainda o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Para justificar a aplicação das medidas, Bessent apontou que o magistrado teria violado os direitos humanos.

“Alexandre de Moraes assumiu a responsabilidade de ser juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas americanas e brasileiras”, destacou. “Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará a responsabilizar aqueles que ameaçam os interesses dos EUA e as liberdades de nossos cidadãos”, completou.

A ação foi duramente criticada por órgãos e autoridades brasileiras. O ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, afirmou que pretende adotar medidas contra as ações norte-americanas. O STF destacou que é de “exclusiva competência” da Justiça brasileira julgar crimes que atentam contra a democracia do Brasil, “no exercício independente do seu papel constitucional”.

A manifestação mais aguardada ocorreu na noite daquele dia 30 de julho. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que considera “inaceitável” a interferência de Donald Trump no Judiciário brasileiro. Em outro ponto do comunicado, rebateu as acusações de desrespeito aos direitos humanos no Brasil, ao destacar que há “independência entre os Poderes”.

Efeito contrário

Desde as primeiras medidas anunciadas pelo presidente dos EUA, o deputado federal Eduardo Bolsonaro vem afirmando que as coisas podem piorar e que não “haverá recuo” por parte do governo estadunidense. Além de destacar que atua junto aos políticos americanos para que acabe o “regime de exceção” no Brasil, e sonha ver Moraes “na cadeia, como ele tem feito com tanta gente”.

Esse posicionamento da família Bolsonaro, entoado por Eduardo, tem auxiliado na recuperação da imagem do presidente Lula, que vinha desgastada desde a crise com o IOF (Imposto sobre Operação Financeira).

A pesquisa Latam Pulse, divulgada na quinta-feira, 31 de julho, apontou que, pela primeira vez em 2025, a aprovação do governo Lula superou a desaprovação, com 50,2% e 49,7%, respectivamente. O levantamento ainda ressaltou que, em julho, a imagem positiva do petista (51%) ultrapassou a negativa (48%). Isso ocorreu devido à piora na imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que cresceu negativamente 2 pontos percentuais.

Pesquisa Datafolha divulgada no mesmo dia, mostrou que 89% dos brasileiros acreditam que a tarifa imposta pelos EUA podem prejudicar a economia brasileira.

Segundo o levantamento, 92% de quem respondeu ter votado em Bolsonaro nas eleições de 2022 afirmam que o tarifaço vai prejudicar a economia nacional. Já 87% dos eleitores de Lula têm o mesmo posicionamento.

Em entrevista à IstoÉ, Paulo Ramirez, cientista político e professor da ESPM, afirmou que o petista soube capitalizar a crise com os EUA para melhorar a perspectiva interna sobre sua gestão. Além de estar utilizando-se do efeito “rally round the flag” (união em torno da bandeira).

Isso foi observado no Canadá, onde o partido liberal ganhou as eleições após ataques de Trump ao país, e no México, onde a presidente Claudia Sheinbaum conquistou o maior índice de popularidade da história mexicana. Ameaças externas auxiliam a aumentar o nacionalismo daquela população.

“Em relação ao Brasil, o que Trump e a família Bolsonaro têm mostrado é que estão agindo contra os interesses do Brasil e, assim, acabam despertando o sentimento de nacionalismo pragmático, que defende as instituições brasileiras, a independência entre os Poderes e, principalmente, rejeita qualquer tipo de interferência externa”, explicou Ramirez.

Na visão do especialista, o posicionamento da família Bolsonaro perante as sanções dos EUA “pegou muito mal com a população, visto que o lema ‘Brasil acima de tudo’ não foi levado a cabo por eles”.

Ramirez destacou que não podemos esquecer que em 2026 teremos eleição presidencial e Lula já falou publicamente sobre seu interesse de concorrer a reeleição. “Essa crise e a defesa da soberania nacional fizeram o petista ganhar uma sobrevida em termos de popularidade, o que é importante para o próximo pleito”, finalizou.