As ações do grupo chinês Evergrande, um dos gigantes do setor imobiliário do país, registraram queda expressiva nesta quinta-feira (21) no retorno à Bolsa de Hong Kong, após uma suspensão de quase três semanas, após informações sobre o fracasso da venda de sua unidade de serviços de propriedades.

A Evergrande suspendeu as operações na Bolsa em 4 de outubro, quando enfrentava uma dívida de 300 bilhões de dólares, em meio aos temores dos investidores com o impacto que uma eventual falência teria sobre a economia da China.

Em seu retorno, os títulos operavam em queda de mais de 10% em Hong Kong.

Junto com a retomada das operações na Bolsa, o conglomerado anunciou na quarta-feira o fracasso do acordo para vender 50,1% de sua unidade Evergrande Property Services Group pelo valor de 2,58 bilhões de dólares.

O possível comprador era uma unidade do grupo imobiliário de Hopson Development Holdings (de Hong Kong), que, em um comunicado enviado à Bolsa, “lamentou anunciar que o vendedor não conseguiu completar a venda”.

Ao contrário dos ativos da Evergrande, as ações da Hopson avançavam mais de 12% n Bolsa de Hong Kong.

A Evergrande afirmou que continuará adotando medidas para aliviar os problemas de liquidez, mas advertiu que “não há garantias de que o grupo consiga cumprir suas obrigações financeiras”.

Em uma constatação do atual estado de seus negócios, a incorporadora imobiliário reconheceu que vendeu apenas 405.000 metros quadrados de propriedades entre setembro e outubro, uma temporada teoricamente de muita atividade.

Os contratos pela venda de imóveis somavam 3,65 bilhões de yuanes (571 milhões de dólares), contra 142 bilhões de yuanes do mesmo período em 2020.

A empresa com sede em Shenzhen, sul da China, já deixou de pagar vários títulos em dólares, e no sábado expira o prazo de carência de 30 dias de um título offshore.

– “Contágio” –

O grupo iniciou a cotação em Hong Kong em 2009, quando arrecadou 9 bilhões de dólares em sua oferta pública inicial, o que a transformou na principal empresa privada do setor imobiliário da China e seu proprietário, Xu Jiayin, no homem mais rico do país.

Xu expandiu seus interesses com a compra do clube de futebol Guangzhou em 2010, que mudou de nome para Guangzhou Evergrande, e investiu em jogadores e técnicos de grande destaque.

Mas o conglomerado começou a sofrer com os controles impostos por Pequim em agosto de 2020 sobre as incorporadoras imobiliárias para conter seu endividamento e se viu forçado a vender a preços bastante reduzidos.

O mercado está preocupado com as consequências do possível colapso da empresa sobre a economia chinesa, que viu o crescimento desacelerar de maneira mais expressiva que o esperado no terceiro trimestre.

Um sinal do mau momento do setor, o valor das casas vendidas em setembro caiu 16,9% em ritmo anual em setembro, que também registrou queda nos valores das casas novas na China pela primeira vez em seis anos.

Vários concorrentes imobiliários locais deixaram de pagar suas dívidas nas últimas semanas e viram suas notas de classificação reduzidas.

“O contágio emerge em várias partes do setor da construção da China, desencadeado pelos problemas da Evergrande e agravado pelas questões de crédito de outras incorporadoras”, afirmaram analistas da Fitch Ratings em um relatório divulgado nesta quinta-feira.

“A volatilidade do mercado enfraqueceu as perspectivas de um refinanciamento a curto prazo e aumentou a pressão de liquidez das incorporados com perfis de crédito frágeis”, completa o texto.