Aos 54 anos, o banqueiro carioca José Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil, conseguiu reunir ao lado da mulher, Andréa Paula, uma coleção de qualidade extraordinária, cobrindo os principais nomes e movimentos do modernismo e da arte contemporânea brasileira e internacional. Parte desse imenso acervo, que hoje ultrapassa 2 mil obras, está na exposição Os Muitos e o Um, que o Instituto Tomie Ohtake abre sábado, 3, com curadoria do professor norte-americano Robert Storr e apoio de Paulo Miyada, curador da instituição.

Algo em torno de 300 peças estão na mostra, que ocupa todas as salas expositivas do Instituto Tomie Ohtake. De modernos como Volpi a contemporâneos como Paulo Pasta, passando por concretos (Geraldo de Barros) e neoconcretos (Lygia Clark, Willys de Castro), a exposição destaca os artistas com maior presença na coleção, que exigiu do banqueiro mais de duas décadas de empenho para conseguir obras icônicas como Convite ao Raciocínio (1978), do escultor carioca Waltercio Caldas, reproduzida em vários dos seus livros.

O curador Storr admite que tem maior afinidade com a obra dos artistas neoconcretos, particularmente Lygia Clark, pela limpeza formal de seus trabalhos da época (fim dos anos 1950 e início de 1960). Porém, acabou seduzido pela nave louca de Hélio Oiticica. E não se arrependeu. “Eles, basicamente, mudaram a nossa maneira de ver”, resume Storr, ex-curador do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e primeiro norte-americano a ser nomeado diretor da Bienal de Veneza (2004 e 2007).

Editor e colaborador de diversas revistas de arte (Art in America, Artforum), Storr é também autor de livros sobre Philip Guston, Chuck Close e agora um sobre a vida da escultora Louise Bourgeois – Intimate Geometries, que chega às livrarias americanas em outubro. Professor de pintura em Yale, era natural que seus olhos convergissem para o núcleo volpiano, que ganha uma sala só para abrigar quase duas dezenas de telas do pintor Alfredo Volpi (1896-1988). Ele tem a boa companhia de duas esculturas em ferro do neoconcreto mineiro Amilcar de Castro (1920-2002).

Se a mostra se resumisse apenas à sala de Volpi, já seria motivo para uma visita ao Instituto Tomie Ohtake, mas é possível acompanhar na exposição a trajetória da arte brasileira desde a época do grupo Santa Helena até os pintores mais jovens em atividade no País, dois deles ex-alunos de Paulo Pasta: Marina Rheingantz e Bruno Dunley. Ambos estão no piso superior, ao lado do mestre e outros pintores de diferentes gerações, como Leonilson, Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.

“Hoje é mais difícil iniciar uma coleção como essa”, diz Storr, que vem ao Brasil com alguma frequência há quase 30 anos. “Normalmente, as coleções sul-americanas são focadas num determinado período, mas a de José Olympio é multifocal, híbrida.” Ele mesmo um colecionador, que tem em seu acervo alguns brasileiros, o curador afirma que se sentiu à vontade para aceitar o convite de organizar a exposição por conhecer bem as obras de artistas da coleção, em especial Waltercio Caldas, sempre presente em mostras internacionais.

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Storr defende que o circuito internacional das mostras bienais – e ele não hesita em colocar a de São Paulo ao lado de Veneza – tem um papel fundamental na difusão de artistas de difícil penetração, o que de fato se aplicou ao caso de Mira Schendel, um dos destaques da coleção de José Olympio – ele é um dos 12 colecionadores que têm um raríssimo exemplar da série Sarrafos, a última realizada pela artista de origem suíça.

A exposição tem ainda um núcleo dedicado à fotografia, dos nomes históricos (Gautherot, Pierre Verger) aos contemporâneos (Miguel Rio Branco, Luiz Braga). Em outra sala estão agrupados artistas que tiveram seus nomes ligados à arte conceitual (Ana Maria Maiolino, Paulo Bruscky).

OS MUITOS E O UM

Instituto Tomie Ohtake. Rua Coropés, 88; 2245-1900, Pinheiros. 3ª a dom., 11h/20h. Grátis.

Até 23/10. Abre sábado (3/9)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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