Em meio ao aumento de casos, internações e mortes por covid-19 no País, a temporada 2021 do futebol brasileiro começa com três campeonatos estaduais suspensos por causa da pandemia e outros quatro com alterações de locais de jogos em relação ao planejamento inicial. Para os próximos dias, não está descartada a possibilidade de mais competições serem paralisadas.

Os estaduais de Santa Catarina e Paraná foram suspensos, enquanto no Acre a federação adiou o início do campeonato, que estava previsto para começar no último fim de semana. A liberação do torneio depende da autorização das autoridades locais. O Catarinense, por causa do agravamento da pandemia, só voltará a ter jogos quando os hospitais tiverem mais leitos de UTI.

A Federação Cearense de Futebol suspendeu os jogos do campeonato estadual em Fortaleza até o dia 18. O torneio, contudo, continua ativo em outras localidades. E os jogos da Copa do Nordeste estão liberados na capital.

Situação semelhante à do Tocantins, onde estão suspensos os jogos do campeonato estadual em Palmas até o dia 16. O torneio, contudo, está liberado em outras cidades.

Brasília vive uma situação inusitada. Com a proibição de eventos esportivos no Distrito Federal, o campeonato está ocorrendo em cidades de Estados vizinhos: Luziânia e Formosa, em Goiás, e na mineira Unaí.

Em Minas Gerais, apesar do pedido do Ministério Público para uma paralisação momentânea do Estadual, os dirigentes ainda não cogitam adiar os jogos. A quarta rodada está garantida para começar na sexta-feira.

“Se não tiver público e todo time for testado por PCR antes dos jogos pode ser viável (a realização das partidas)”, afirma Marcelo Simão, chefe do serviço de moléstias infecciosas do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. “Caso contrário, não. E o exame precisa feito ser pouco antes do jogo”, enfatizou.

Marcelo Otsuka, especialista da Sociedade Brasileira de Infectologia, vê com preocupação a continuidade do futebol não apenas por causa da bola rolando. Fatores externos, relação entre jogador e a família, e até o comportamento dos torcedores o deixam preocupado.

“A grande questão em relação à continuidade dos campeonatos, dos torneios de futebol, ou mesmo de outros torneios, é a questão do controle. A gente observa que, no caso do futebol, os profissionais são realmente testados com uma frequência até acima da média”, ressalta. “Mas, qual e o problema? Eles também têm familiares e pessoas de risco. Se eventualmente desenvolvem a doença e levam para casa, isso representa a chance de complicação para algum familiar. Eventualmente, eles também podem ser infectados em casa ou em algum outro ambiente que não no trabalho.”

Outsuka usa o caso recente do Corinthians como parâmetro para mostrar que um simples contaminado pode espalhar o coronavírus para um grupo inteiro caso não exista controle adequado. O clube chegou assim a 14 atletas infectados, que desfalcaram o time na partida contra a Ponte Preta, no último domingo, pela terceira rodada do Campeonato Paulista. Ele frisa que já ocorreu o mesmo com Palmeiras, Flamengo, Santos e outros clubes.

Para o médico, os jogadores dificilmente vão ter um quadro importante de covid-19. Mas se tornam transmissores se não houver um rigoroso controle. “Um jogador da NBA, caso tenha um contato com alguém contaminado ou de risco, nem joga. Fica isolado. Esse é o cuidado em relação à epidemiologia, ou seja, a avaliação de pessoa de risco”, observa, descrente que no futebol será parecido.

“Outro grande problema é, por exemplo, em relação ao campeonato (conquistado) do Palmeiras. É um absurdo a torcida fazer o que fez (ir à rua festejar o título da Copa do Brasil). Isso leva ao agravamento da epidemia. Enquanto não tivermos respeito de cada indivíduo para com a sociedade, nós ainda vamos ter a doença. Aquilo significa transmissão”, reprovou. “Se a única forma de a gente evitar esse contexto de transmissão e a falta de respeito da sociedade for cortar o futebol, talvez seja necessário.”