O tão temido pico dos casos de coronavirus parece ter chegado nesta última semana em algumas regiões. À beira do colapso em seu sistema de saúde, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), chorou e pediu ajuda: “Manaus não está mais em estado de emergência, mas sim de calamidade”. Diante da explosão de casos – que chegaram a 1,8 mil, sendo 209 mortos, o que representa uma das maiores letalidades do País, de 8,35% — o Amazonas anuncia agora a criação de mais um hospital de campanha para tentar dar conta do avanço da pandemia.

A situação crítica, no entanto, não se restringe apenas ao Norte, mas se espalha por todo o País, exigindo que prefeitos e governadores corram contra o tempo para montar estruturas paralelas que ajudem a dar suporte ao sistema oficial de saúde. Pelo menos 63 hospitais de campanha, com mais de 11 mil novos leitos, estão sendo montados no Brasil. Em São Paulo, onde se registra o maior número de casos (9.537 e 690 mortes), mesmo antes do Hospital Emílio Ribas, referência em doenças infectocontagiosas, anunciar que estava no limite, o governo do decidiu implantar esses hospitais provisórios para tratar pacientes em situação de baixa ou média complexidade. Um foi instalado no Estádio do Pacaembu, com cerca de 200 vagas, sendo que 81 já ocupadas, e outro, no centro de exposições do Anhembi, com cerca de 1,8 mil vagas, que contabiliza 76 pacientes internados. Até o final de abril, a cidade terá um terceiro hospital instalado no complexo esportivo do Ibirapuera. Ao todo, serão 2.240 leitos de baixa complexidade a mais na estrutura atual.

Criados para prevenir e obter resultados mais rápidos no tratamento de pacientes sem gravidade, esses hospitais exigem cuidados diferenciados, especialmente numa pandemia com as dimensões da Covid-19, cuja transmissão e a evolução são muito rápidas. “Eles nos ajudam a dar conta da demanda e tratar os casos mais simples”, explica o infectologista e especialista em saúde pública, Helio Bacha. Segundo ele, diante de uma doença como a Covid-19, que oferece muitas surpresas aos médicos, comprometendo uma série de sistemas funcionais, como o respiratório, o circulatório e o digestivo, o atendimento deve ser imediato. “É preciso uma decisão política para enfrentar esse problema, mas hoje há um negacionismo sobre a gravidade que emperra as decisões necessárias”, diz Bacha, que também foi infectado. Ele diz que não se assusta com epidemias, porque, desde que se formou, já pegou várias, sendo a primeira, a de meningite, em 1974. “Foi muito forte e o regime militar censurava as informações, o que agravava o problema”, diz. “Mas nenhuma delas era tão complexa e grave como essa”.

Rede de proteção

Segundo maior estado atingido pela doença, o Rio de Janeiro vai montar uma rede de hospitais de campanha, somando mais de 2 mil leitos. Iniciativas semelhantes estão sendo tomadas no Ceará, em Pernambuco e Goiás. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a construção de estruturas provisórias é essencial para dar conta do aumento da demanda. E em São Paulo isso será indispensável, especialmente diante da mudança de protocolo anunciada nesta semana, que prevê a internação também de pacientes com sintomas leves de Covid-19. A alteração, segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, é necessária porque muitos pacientes, que antes iam para casa, acabam voltando em estado crítico. Os desafios são enormes e a estrutura precisa ser ampliada para dar conta do aumento da demanda.

A OMS alerta que a construção de estruturas provisórias é essencial para atender o aumento da demanda