O vereador Toninho Paiva (PL), de 78 anos, ainda tenta se conformar com o resultado das eleições do ano passado. Pela primeira vez em quase três décadas, ele não conseguiu se eleger e está de fora da legislatura que assumiu mandato anteontem. Até poucos dias atrás, tinha um tom amargurado na voz ao falar sobre sua saída da Câmara Municipal de São Paulo.

“Ainda não engoli o resultado dessa eleição”, ele disse na terça-feira, três dias antes de sair do cargo. “Eu (passei) 28 anos debatendo as coisas e de repente, de uma hora para outra, ‘pum’, acabou. Você não sabe nem para onde vai, fica sem chão.”

Paiva é o mais velho, e com mais tempo de mandato, de uma leva de vereadores veteranos que deixaram o Legislativo municipal nesta semana. Entre eles também estão José Police Neto (PSD), ex-presidente da Casa, Soninha Francine (Cidadania), Gilberto Natalini (sem partido) e Celso Jatene (PL) – os dois últimos decidiram não disputar a reeleição.

Atleta do futebol de várzea na juventude, ex-presidente de associação de amigos do bairro no Tatuapé, na zona leste, Paiva é um expoente da política baseada em favores. Ele conta que durante a carreira indicou o diretor de um hospital na região, e para lá encaminhava moradores que pediam ajuda para conseguir atendimento médico.

“A gente dava um jeitinho, aí entrava (no atendimento) sem prejudicar o outro, também. Sempre tomei esse cuidado”, garante. Durante a gestão de Celso Pitta na Prefeitura (1997 a 2011), o vereador era citado nos jornais por controlar indicações políticas no Plano de Atendimento à Saúde (PAS), programa que transferiu serviços municipais para cooperativas de profissionais da área de saúde.

O PAS foi alvo de investigação do Ministério Público Estadual e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), após promotores identificarem um rombo de mais de R$ 1 bilhão no programa por causa de empréstimos contraídos pelas cooperativas. Paiva passou ileso, sem enfrentar nenhuma denúncia formal. “Graças a Deus, não deu em nada”, ele diz.

O mesmo ocorreu nos escândalos que envolveram a gestão de Celso Pitta. A ex-mulher do então prefeito, Nicéa Camargo, fez acusações de corrupção contra Pitta, secretários municipais e vereadores – inclusive ele -, e muitas não prosperaram. Paiva votou pela abertura da comissão especial para analisar o pedido de impeachment de Pitta, e também pela permanência do prefeito no cargo, mais tarde.

Na última semana, Paiva mandou redigir um documento com a lista de 45 projetos aprovados, mais da metade com ações para a terceira idade, seu público-alvo – inclusive dez datas comemorativas e semanas temáticas para prevenção de doenças.

Ciclo

Em meio à despedida, os agora ex-vereadores se dividem sobre a qualidade do trabalho no Legislativo paulistano. A principal crítica é que a maioria dos parlamentares não escuta as demandas que chegam pelas redes sociais e outros meios digitais, e preferem ficar à mercê do Executivo.

Gilberto Natalini, que teve mandatos na Casa durante 20 anos, vê a política parlamentar como decadente e acha problemática o aumento no número de vereadores “ligados a denominações religiosas, a grupos econômicos, nem sempre republicanos e legais”. Ele também critica os “youtubers”, que entraram na política principalmente após ganhar notoriedade na internet, e prevê que haverá dificuldade para lidar com temas áridos como normas de urbanismo e orçamento público.

Eleito presidente da Câmara em duas ocasiões, em 2011 e 2012, José Police Neto avalia que o maior desafio dos vereadores ainda deve ser resistir à influência

da Prefeitura e ter uma agenda própria. “Ainda enxergo uma Câmara para lá de submissa às vontades do Executivo com seus superpoderes.”

Soninha Francine, que passou pela Casa entre 2005 e 2009 e agora terminou o segundo mandato, diz que viu os colegas amadurecerem e aceitarem criticas a seus projetos. “Passamos a ter debates verdadeiros em torno de propostas.”

Fora da Câmara, Police e Soninha pensam em atuar no terceiro setor com políticas pública. Já Toninho Paiva pensa em abrir um memorial, e talvez tocar os negócios em uma empresa da família. “Ex-vereador não vale nada”, afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.